sábado, 30 de abril de 2011

Reconhecimento

No seguimento da minha revolta relatada no “post” Reservado à Indignação (20), quero louvar um funcionário dos serviços académicos da ESCS (Escola Superior de Comunicação Social) pela forma como conduziu o caso, depois da minha filha A. lhe ter exposto o sucedido. Não chegou a ser necessário fazer uma reclamação por escrito porque, felizmente, ainda há pessoas com consciência profissional, imparciais e rectas que fazem os impossíveis para que a instituição onde trabalham continue a ser prestigiada. São estas as pessoas que fazem a diferença…

Nota: O senhor T. falou com a professora e a minha filha vai fazer o exame. Falta apenas a professora marcar o dia.

Gosto...e não se fala mais nisso! (24)

O arqueólogo é o melhor marido que uma mulher pode ter; quanto mais velha ela fica, mais interesse ele tem por ela. (Agatha Christie)

Estou aqui a pensar... talvez ponha um anúncio no jornal. Senhora VCC (Velha Comó Caraças) procura arqueólogo para futuro compromisso...

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Reservado à Indignação (20)

Sempre tive as melhores referências da ESCS, Escola Superior de Comunicação Social, razão pela qual a minha filha A. ficou deveras satisfeita quando soube que tinha conseguido ingressar nesse estabelecimento. A primeira vez que se deslocou à secretaria, julgo que para se matricular, foi atendida por uma senhora afável e polida que “perdeu tempo” a dar-lhe todas as informações que julgou serem úteis, isto é, uma recepção inicial primorosa.
Hoje, quando penso nessa hospitalidade, vem-me à ideia aquela anedota sobre o P.M. José Sócrates no Inferno. Inicialmente, havia um lindo campo de golfe e divertimentos, depois um mundo cheio de lixo malcheiroso. Inicialmente, estavam em campanha, depois de conseguirem o seu voto… eis a realidade!
As coisas foram decorrendo dentro da normalidade, embora, com um ou outro quiproquó e algumas falhas inexplicáveis, como, por exemplo, computadores em número insuficiente em alguns exames, situação que obriga alguns alunos a aguardarem pelo menos 2 horas por um computador disponível para realizarem a prova… Poupem-me, palhaçada tem hora!...
Análise Económica, o calcanhar de Aquiles da minha filha e de muitos (leia-se “resmas” ou “paletes”) colegas, tem um programa desadequado e demasiado arrevesado para quem teve Matemática apenas até ao 9º/10º anos. Isto levou os alunos a avançarem com uma petição que redundou na substituição do professor (curiosamente, um senhor que fazia gala do número de negativas na própria cadeira que leccionava…) em vez de fazerem uma revisão e um ajuste dos conhecimentos e temas abordados na disciplina. Mudaram as moscas…
A estocada final na nossa paciência chegou há poucos dias. Exame marcado para dia 27 de Abril. Careca de saber que o prazo limite das inscrições para exames é, obrigatoriamente, até dois dias antes da respectiva prova, a minha filha, que se encontra a trabalhar, ligou para os serviços académicos no passado dia 20 de Abril para saber se a secretaria estaria a funcionar na manhã do dia seguinte, quinta-feira, visto que da parte da tarde estaria encerrada por motivo de tolerância de ponto ao funcionalismo público. Foi informada de que estaria encerrada todo o dia! Palhaçada tem hora!... Depois do choque inicial, enviou um e-mail, conciso e respeitoso, aos serviços, a perguntar se, em virtude desse encerramento, poderia inscrever-se na terça-feira, véspera do exame, porque segunda-feira era feriado. A resposta foi curta e grossa. Mesmo que estivessem abertos ao público na quinta-feira, o prazo tinha terminado na quarta-feira. Foi um balde de água fria, mas a minha filha assumiu o erro. Paciência!
O desagrado e a indignação face à informação incoerente e pouco rigorosa, assim como ao procedimento injusto levado a cabo por funcionários da secretaria surgiram hoje. A minha filha teve conhecimento comprovado de que vários estudantes se inscreveram para o dito exame na terça-feira, véspera da prova, completamente fora do prazo estipulado pela escola… Palhaçada tem hora! A minha filha perdeu uma oportunidade e ficou prejudicada!
Esta dualidade de critérios é injusta e revoltante! Qual é a solução para esta discriminação e arbitrariedade? Sem cruzar os braços, aconselhei-a a não deixar passar este caso impune e a apresentar amanhã mesmo uma reclamação por escrito. Ou há moralidade ou comem todos…
Felizmente, no meio de toda esta inépcia, salvam-se alguns, poucos, professores que devido à sua seriedade e competência serão sempre olhados como mestres e ficarão na memória, e isso faz toda a diferença

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Se eu tivesse um jardim... (2)

Amores-perfeitos

Memórias e Afectos (77)

Em tempos idos, que é como quem diz nos anos 60, ou seja,
ontem ou anteontem (eheheh) alguém tinha
um palhaço malabarista igualzinho a este...
Seriam os meus primos?...

Aguardo confirmação...

domingo, 24 de abril de 2011

sábado, 23 de abril de 2011

Livros e Mar: eis o meu elemento! (39)

Confesso que há autores, como Paulo Coelho ou Nicolas Sparks, ambos com obras que são autênticos fenómenos literários, que não me despertam a curiosidade, não me motivam, não me cativam, mas não encontro uma explicação consistente. Talvez porque os livros de Paulo Coelho são muito ligados à religiosidade e à magia, assuntos que não me seduzem, e, no caso de Sparks (julgo que um dos autores mais lidos em Portugal e no mundo) porque a fórmula é sempre idêntica, histórias de amor, dramas e paixões. Logo eu, uma romântica incurável, não sou atraída por este autor que apaixona o planeta com a sua escrita doce e sonhadora. Coisas!... Quiçá um dia ainda venha a ser sua fã incondicional...
José Rodrigues dos Santos encontrava-se num patamar entre Coelho e Sparks e não fazia parte da minha lista, sempre em constante actualização, de livros a comprar. Por casualidade, uma colega fez questão de me emprestar “O Anjo Branco” e a verdade é que cada página que virava me ia entusiasmando, revelando-me a sua escrita leve e despretensiosa.

Baseada em factos reais e históricos, a obra leva-nos desde meados dos anos 30 até, sensivelmente, ao 25 de Abril de 1974, encontrando-se dividida em três partes, O Paraíso, O Purgatório e O Inferno, tal como A Divina Comédia, de Dante, embora por ordem inversa. Vou alongar-me um pouco nesta análise porque o livro foca temas que, curiosamente, me interessam sobremaneira.
Na primeira parte do livro, JRS traça, com humor, o nascimento, a infância e a adolescência de José Branco, passados entre Penafiel e o Porto, mostrando-nos a vida religiosa e conservadora na província, que o Estado Novo mantinha na mediocridade. E enquanto o mundo estava em guerra, o autor relata-nos como esse acontecimento afectou Portugal, através das campanhas de racionamento (nos produtos mencionados, fiquei na dúvida se já existiam óleos alimentares, mas…) e da chegada de refugiados que trouxeram novos costumes que escandalizavam o povo português (mulheres nas esplanades e homens sem chapéu…). A viagem da família Branco a Lisboa faz-nos voltar atrás no tempo, trazendo-nos à lembrança a evolução das obras públicas do Estado Novo, como a estrada marginal de Lisboa para Cascais, o Instituto Superior Técnico, o Aeroporto da Portela, o Hospital de Santa Maria ou o Estádio Nacional, e leva-nos a visitar a Grande Exposição do Mundo Português, uma enorme operação de propaganda do regime salazarista.
O protagonista é educado pelo pai, capitão reformado, que o ensina a reger a sua conduta pessoal e profissional seguindo sempre os valores morais, ajudando-o a diferenciar entre ter uma boa vida e ter uma vida boa.
O Purgatório, passado nos anos 60, apresenta-nos José Branco, formado em medicina e casado com Mimicas, a sua primeira namorada, já em Moçambique, descrevendo como era a vida dos portugueses em África. Confrontado com inúmeros problemas sanitários, teve a ideia de criar um serviço revolucionário, o Serviço Médico Aéreo, exercendo também a actividade no Hospital de Tete, onde chegou a director. Um dia, explicou a escolha da roupa branca que usava como médico: “O branco é sinónimo de paz e humanidade. É disso que precisamos” e fiel ao que aprendera nas aulas de deontologia na Faculdade de Medicina dizia “um homem bom gosta das pessoas e usa as coisas. Um homem mau gosta das coisas e usa as pessoas”.
Quando rebenta a Guerra Colonial, torna-se perceptível que, não só havia um grande desconhecimento no Continente sobre o que se passava nas colónias, mas também um grande desconhecimento por parte dos próprios habitantes das colónias sobre o que se passava na guerra. A guerra em Moçambique começou em 1964, mas manteve-se durante uns anos nas províncias de Cabo Delgado e Niassa. Só em 1968/69 começou a avançar para Tete, onde em 1969 se iniciou a construção da barragem de Cabora Bassa, um projecto de desenvolvimento da região lançado pelo Estado português.
Na última parte, O Inferno, depois da guerra se estender à província de Tete, a actividade da guerrilha aumentou, com ataques às colunas militares e pressionando os aquartelamentos portugueses. O conflito agravou-se em 1970 depois da Operação Nó Górdio, a maior e mais dispendiosa campanha militar portuguesa em toda a guerra, com o objectivo de destruir importantes bases da Frelimo. Neste ambiente de guerra, José Branco continua o seu papel humanitário, tratando todos aqueles que precisavam, fossem eles soldados ou guerrilheiros. Dois anos depois, com esta força política já misturada com a população e na sequência de uma emboscada sofrida pelos militares portugueses nos dias anteriores, além de algumas manifestações da guerrilha na região de Tete e muito próximo da cidade, sucederam-se vários massacres como resposta das forças portuguesas. O mais conhecido seria o de Wiriyamu, levado a cabo por comandos portugueses em Dezembro de 1972. O ataque de comandos da 6.ª companhia, às aldeias de Wiriyamu, Chawola e Juwau, com o nome de código Operação Marosca, foi antecipado dois dias porque a PIDE/DGS tinha informações seguras da presença do comandante da Frelimo da zona operacional de Tete. No massacre de Wiriyamu morreram centenas de civis, entre homens, mulheres e crianças. No dia seguinte, José Branco foi à aldeia, testemunhou a dimensão da chacina e sentiu o dever moral de redigir um relatório, contando a verdade dos factos. O inspector da DGS tentou dissuadi-lo, mas sem sucesso.

[...] O inspector da DGS prendeu um cigarro entre os lábios e acendeu-o com um isqueiro prateado.
“Quero pedir-lhe que não conte a ninguém o que viu”, disse enquanto exalava uma baforada cinzenta.”O senhor fez o seu trabalho, aceito isso perfeitamente. Agora mantenha o bico calado”.
A ordem fez José sorrir sem vontade.
“O senhor sabe muito bem que sou obrigado a escrever um relatório sobre tudo o que faço enquanto médico. Considerando a gravidade do que observei, diria que a minha obrigação é acrescida pelas circunstâncias”.
"A sua obrigação é com a pátria".
“Talvez, mas não só. É,
porém, também por causa da pátria que tenho de escrever o relatório”.[…]

José acabou por ser desterrado para Nampula, onde toma conhecimento das revelações feitas pelos padres da Missão de São Pedro sobre o massacre. O episódio dantesco, abafado e desmentido tanto em Portugal como em Moçambique, acaba por ser denunciado no jornal The Times e na imprensa internacional, poucos dias antes da visita de Marcelo Caetano a Londres, há muito programada para a celebração dos 600 anos da aliança Luso-Britânica.
O Anjo Branco, uma meditação sobre ter uma boa vida e ter uma vida boa, uma reflexão sobre o bem e o mal. Gostei e recomendo.

[…] a tropa especial e alguns elementos da DGS, a secreta do Estado, matam em tempo recorde 400 pessoas. Procuram a base do inimigo, mas encontram aldeias indefesas, apenas com mulheres, crianças e velhos desarmados. Fazem-se experiências. Um soldado abre o ventre de uma mulher grávida e mostra-lhe o sexo do feto. Outros colocam os canos das armas na boca de recém-nascidos, à laia de biberão. E as donzelas, depois de satisfazerem o ímpeto dos defensores da pátria, são abatidas. Foi apenas mais uma atrocidade praticada pelo exército colonial, mas esta teve parangonas na imprensa estrangeira porque missionários a denunciaram à opinião pública internacional. […]
Massacres em Moçambique, Felícia Cabrita, A Esfera dos Livros, 2008

No seu pequeno avião, José cruza diariamente um vasto território para levar ajuda aos recantos mais longínquos de Moçambique. O médico que chega do céu vestido de branco transforma-se numa lenda no mato. Chamam-lhe "o Anjo Branco".
Mas a guerra colonial rebentou e um dia, no decurso de mais uma missão sanitária, José cruzou-se com aquele que se tornou o mais aterrador segredo de Portugal no Ultramar.
Inspirado em factos reais e desfilando uma galeria de personagens digna de uma grande produção, "O Anjo Branco" afirma-se como o mais pujante romance jamais publicado sobre a Guerra Colonial - e, acima de tudo, sobre os últimos anos da presença portuguesa em África.