Tentações (por Pedro Marques Lopes na Life)
Mateus 4:1, 3-4 «Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo… Chegando, então, o tentador disse-lhe: “Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães.”»
E por aqui se prova que Lúcifer além de velho é burro. Como é evidente, Jesus deve ter encolhido os ombros e suspirado: «Grande asno, ainda se fosse transformar estes calhaus em três raparigas de amplos seios, longas pernas e 19 protuberantes primaveras, umas garrafas de Dom Perignon, uma perdiz de escabeche, três embalagens de Viagra, um concerto dos Smiths e dois cafés mais um Balvenie vá que não vá. Agora pão? Por amor do Paizinho… milagres, sim senhor, estou disponível, mas tem de ser uma coisa como deve ser.»
É por estas e por outras que Jesus construiu uma Igreja como deve ser, com sucursais espalhadas pelo mundo todo, palácios em tudo o que é sítio, um património que não caberia em mil museus, e o bronco do mafarrico ficou a ver navios com uns totós que acendem velas em bermas de estradas e degolam galinhas pretas.
Era perguntar a um cidadão: «Olha, filho, queres ser líder da Igreja, viver numa barraca num bairro de lata em Roma, comeres sopa e pão preto todo o santo dia, andar com uma túnica, sandálias, meias esburacadas e coisa e tal nadinha?»
Agora se lhe disserem: «Pronto, sexo está fora de questão, mas tens um palácio para o dia-a-dia de esverdear de inveja Bill Gates, um carro com o teu nome, o mundo inteiro a querer dar-te beijos no anel (pois, no anel é o que se pode arranjar), um lugar no camarote presidencial em todos os estádios de futebol do mundo e um hole in one de vez em quando (esta parte é só para candidatos a papa de especial bom gosto)?»
É por estas e por outras que nunca percebi porque diabo se associa a tentação a coisas más. Um tipo pode ficar gordo por comer demasiados hambúrgueres ou feijoadas à transmontana, ficar com o fígado debilitado por beber anis ou Barca Velha, perder a cabeça por um camafeu ou pela Soraia Chaves.
A questão é e será sempre a mesma, estamos sempre a sacrificar qualquer coisa. As tentações não passam de opções. Estamos sempre a fazê-las: levantamo-nos ou não da cama, comemos ovos ou muesli, damos um beijo ou um pontapé no chefe, matamos o tédio ou o fígado, fazemos o que gostamos ou queremos um Clio dos novos. Fará o estimado leitor o favor de acrescentar uns volumes com outras escolhas.
Vivemos de tentação em tentação, o desafio é escolher a tentação certa.
Sem comentários:
Enviar um comentário