Há três anos era domingo. Um dia frio, muito frio, tanto frio…
Um dia frio e inconciliavelmente chuvoso.
As palavras, guardadas nos confins da minha tristeza, corriam-me no sangue e propagavam-se a todo o meu ser sem que eu conseguisse proferi-las. Talvez porque o sofrimento e a culpa se enredaram na garganta embargando-me a palavra…
Um domingo frio, muito frio. Foi neste dia que o meu pai, um velhinho fraco e amedrontado, entrou no lar. Porquê naquele dia? Porquê tão perto do Natal? Porque tivemos que fazer escolhas? Porque tivemos que decidir em tão pouco tempo? Porque condescendi? Porquê nas vésperas de Natal? Porquê naquele dia? As respostas a estas questões são seguras e inalteráveis, mas nunca me consolam.
Deixei-o já deitado no quarto, felizmente aquecido. Prometi voltar brevemente. Tentei capacitar-me de que tínhamos tomado a decisão correcta. Até hoje não estou certa disso… Foi a última vez que o vi com vida. Um dia frio, muito frio, um frio que me aprisionou a esse domingo e à promessa que não cheguei a cumprir. Há três anos…
Saímos do lar num profundo silêncio, destroçada por deixá-lo com desconhecidos. O frio abraçou-me e as lágrimas confundiram-se com a chuva…
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Antes do fim…
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário