Victoria Hislop, autora do bestseller “A Ilha” e de “O Regresso” está de volta com “A Arca”. Os livros de Hislop têm sempre uma componente histórica que me agrada bastante. Uma parte da acção de “A Ilha” passa-se na Segunda Guerra Mundial, com várias operações das tropas alemãs contra Creta. “O Regresso” tem como cenário a Guerra Civil Espanhola.
“A Arca” é um romance que nos dá a conhecer uma parte importante do passado histórico recente da Grécia, particularmente da cidade de Tessalónica e de todas as fatalidades e catástrofes que a devastaram. O grande incêndio em 1917, em que a maior parte da cidade foi destruída; o acolhimento aos gregos exilados de Esmirna em troca dos turcos que viviam em Tessalónica, depois da Guerra Greco-Turca 1919-1922; a ocupação alemã em Abril de 1941; as terríveis dificuldades da população civil; a deportação dos judeus para campos de concentração e de trabalho; o extermínio de mais de 90% da população judaica até 1944, ano em que os alemães deixaram a Grécia; a economia do país em ruínas; o sismo em 1978. Tudo isto é narrado de uma forma eloquente ao longo de 400 páginas.
A narrativa começa em 2007 com Dimitri e Katerina, os protagonistas, a contarem ao neto a sua história e as razões que os levam a querer ficar na cidade até à morte, depois de ele os tentar persuadir a ir viver com o filho em Londres. A autora transporta-nos, então, até ao ano de 1917 em Tessalónica…
Com a mestria a que já nos habituou, Victoria Hislop conta-nos como Dimitri e Katerina se conheceram, cresceram juntos e a sua história de amor atribulada, tendo como pano de fundo uma cidade atingida por sucessivas devastações e transformações, onde muçulmanos, judeus e cristãos vivem lado a lado numa perfeita harmonia, criando laços de amizade e interdependência, esquecendo as suas diferenças. E é em nome dessa amizade que são convictos e fiéis depositários de tesouros judeus assegurando que, paralelamente à destruição de vidas, os alemães não destruam ou se apoderem de uma parte da história judaica.
Depois de terem passado por todas as desgraças que assolaram o país e a cidade, depois de sobreviverem às suas próprias adversidades, não há nada que convença Dimitri e Katerina a abandonar a sua terra…
“Há mais uma coisa, para além das memórias, que guardamos para os nossos amigos. Eles também deixaram tesouros para trás. Ao canto da sala, coberta com um pano branco...estava uma arca de madeira...Esta é outra razão para termos ficado...estas coisas não nos pertencem...nós fomos meramente os guardiães.”
Tessalonica, 1917. No dia em que Dimitri Komninos nasce, um incêndio devastador varre a próspera cidade grega, onde cristãos, judeus e muçulmanos vivem lado a lado. Cinco anos mais tarde, a casa de Katerina Sarafoglou na Ásia Menor é destruída pelo exército turco. No meio do caos, Katerina perde a mãe e embarca para um destino desconhecido na Grécia. Não tarda muito para que a sua vida se entrelace com a de Dimitri e com a história da própria cidade, enquanto guerras, medos e perseguições começam a dividir o seu povo. Tessalonica, 2007. Um jovem anglo-grego ouve a história de vida dos seus avós e, pela primeira vez, apercebe-se de que tem uma decisão a tomar. Durante muitas décadas, os seus avós foram os guardiões das memórias e dos tesouros das pessoas que foram forçadas a abandonar a cidade. Será que está na altura de ele assumir esse papel e fazer daquela cidade a sua casa?
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