segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Memórias e Afectos (32)

Praias – 2ª Parte: Juventude

Na minha mocidade, ou seja, já num outro patamar da minha vida, mudei de praia, embora não tenha sido uma opção minha. Tratou-se, apenas, de uma casualidade.
Em meados da década de 70 era frequentadora diária de cafés, onde ia dar “dois dedos de conversa” com amigos e foi por essa altura que nos cruzámos e fizemos amizade com outro grupo de jovens. Alguns deles costumavam ir acampar para o Algarve, nas férias de Verão, e foi de mochila às costas que eu e a T. nos juntámos a eles, rumo a Lagos.
Como o comboio na ponte era ainda uma quimera, tínhamos que ir de barco para o Barreiro e aí apanhar o comboio. Partíamos, por volta da meia-noite, num comboio que parava em todas as estações e apeadeiros e só chegávamos a Lagos às sete da manhã…Agora, que penso nisso, parece-me quase impossível suportar uma viagem de tantas horas para chegar ao Algarve, mas éramos jovens e não havia nada que nos pudesse chatear, muito menos uma viagem de comboio que durava a noite toda… Que mais podíamos desejar a não ser partir à aventura sem ter os pais por perto?
Julgo que foi na primeira viagem que eu descobri a liberdade…mas nunca deixei que essa liberdade se confundisse com libertinagem.
Mais tarde, os elementos do grupo mudaram mas a rotina permaneceu e todos os anos, no início de Agosto, lá íamos nós, de mochila às costas, a caminho de Lagos.
E todos os anos, enquanto, na escuridão da noite, o comboio atravessava o Alentejo, nós gozávamos a nossa emancipação conversando, rindo e jogando às cartas, até sermos vencidos pelo sono e acordarmos em Lagos, encostados uns aos outros, numa cumplicidade silenciosa e sadia…
Depois de instalados no parque de campismo “Esperança de Lagos”, propriedade, penso eu, do clube de futebol local, era altura de começar a gozar a praia e a trabalhar para o bronze (convém dizer que, nos anos setenta, não se ouvia falar muito de precauções com a pele nem da perigosidade dos raios solares, nem da camada do ozono…).


Praia do Pinhão… A praia do Pinhão surge nas minhas memórias. Uma pequena praia, abraçada por rochas, que consegue acolher uma dose generosa de lembranças.
Foi na praia do Pinhão que a T. se escondeu, quando viu aparecer o barco do M…
Foi na praia do Pinhão que procurámos “abrigo” quando fugimos de Monte Gordo, mais propriamente, do V., com quem eu namorava na altura, e dos seus amigos idiotas…
Foi na praia do Pinhão que os nossos corações bateram com mais intensidade.
Foi na praia do Pinhão que curtimos algumas tristezas e vivemos muitas alegrias.


Nunca mais voltei à praia do Pinhão, mas guardo, numa daquelas gavetinhas que temos no cérebro, todos os momentos inesquecíveis, e num cantinho do coração guardo os momentos mágicos que lá passei…
Tenho saudades da praia do Pinhão, saudades da minha juventude, da vida descontraída e divertida. Saudades do tempo em que as nossas preocupações eram, sobretudo, as paixões, os amores de Verão, as trocas de olhares, os comentários, os risinhos abafados, as promessas de amor e as confidências…
Nessa altura, acreditava na paz, na justiça, na felicidade e no amor eterno…
Presentemente, porque sou uma optimista incurável, continuo a acreditar…

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