sexta-feira, 10 de abril de 2009

Memórias e Afectos (18)

Maio de 1999. Quase há dez anos…
Não posso dizer que me causou danos morais irreparáveis, embora pense, com alguma frequência, no acidente que tive a caminho das Caldas da Rainha, mais precisamente em Alcoentre.
Curiosamente, não queria ir… e nem sou dada a premonições…
Curiosamente, era dia do meu aniversário…
Íamos almoçar ao “Cortiço”…
Curiosamente, foi um dia de aniversário muito sui generis
Não almocei, não lanchei, não jantei, não dormi...
Desse acidente resultaram três semanas de hospital, dez meses de incapacidade, cento e quarenta sessões de fisioterapia, algumas limitações e perturbações emocionais e alterações na minha vida…
Apesar disso, julgo que acabei por ultrapassar as dificuldades com algum savoir faire e actualmente já não me afecta pensar nessa etapa menos boa, principalmente porque as vicissitudes da vida nos tornam mais resistentes e fortes…
Tal como o assassino, que volta sempre ao local do crime, também eu, em 2002, voltei a passar no malogrado local do acidente, novamente em direcção ao “Cortiço”, onde cheguei sã e salva, para “cobrar” o almocito que me tinha sido negado três anos antes…
Por várias razões, não voltei às Caldas…
As saudades eram muitas…

1ª Parte
Abril de 2009.
A caminho de Alvorninha e das Caldas da Rainha…
A alegria e o entusiasmo tomaram conta de mim…
Senti-me a voltar atrás no tempo e foi exactamente como menina e moça que palmilhei alguns lugares da minha infância feliz, dando asas à minha imaginação…contando e explicando, às minhas filhas e à minha sobrinha, o significado que tudo aquilo tinha para mim…
Sei que o tempo voa, é inexorável, severo, implacável, foge-nos sem que possamos fazer alguma coisa para o travar, para abrandar o seu ritmo frenético…
Sei que o tempo passa e inevitavelmente as coisas mudam…
No entanto, as minhas memórias teimam em permanecer, resistindo à passagem do tempo e foi, com um misto de mágoa e nostalgia e em total desacordo, que dei por mim a pensar nas palavras de Jacinto em “A cidade e as serras”:
“Eis a civilização! O homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”.

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