Sinto-me, cada vez mais, uma “pastilha elástica”.O dia-a-dia e a sociedade vão-me mastigando até que fique sem sabor, depois irão cuspir-me, deitar-me fora quando não tiver mais préstimo...
Conforme os anos passam, apercebo-me que os melhores anos da minha vida se afastam cada vez mais do presente e não consigo vislumbrar um futuro, muito menos um futuro risonho...
Sugam-me a vida e a esperança. Bem me agarro a essa vida e a essa esperança, mas a amargura cola-se-me à pele, não há como fugir às sanguessugas...
No “tempo da outra senhora” só os filhos das famílias com posses tinham oportunidade de estudar, particularmente os que viviam nas grandes cidades. Sinto que caminhamos para o mesmo… sem ter em conta se vivemos na cidade ou no campo.
Todas as pessoas são iguais e têm direito a oportunidades iguais, mas no mundo as coisas não funcionam assim. Todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades independentemente do sexo, da raça, da língua, da religião, das convicções políticas ou ideológicas, da orientação sexual, etc., mas a verdade é que a situação financeira é um elemento que traz desigualdades bem visíveis. As famílias com melhores condições financeiras podem oferecer aos filhos benefícios, actividades e alguns bens e auxiliares educativos que eu não posso. Assim, o sucesso não depende apenas das faculdades intelectuais, mas das oportunidades, sejam elas educativas ou não. As oportunidades são condicionadas pelo estatuto económico e este limita o desenvolvimento cultural das pessoas.
Sugam-me a vida e a esperança. A esperança de progresso, de facultar às minhas filhas uma vida mais despreocupada, de lhes dar a possibilidade de se aperfeiçoarem e se prepararem melhor para um mundo cada vez mais exigente, enfim, garantir-lhes o que os meus pais me proporcionaram. Claro que os meus pais, com a minha idade, tinham uma vida estável, como era natural que acontecesse quando entrávamos numa fase da nossa vida. Esse princípio, lamentavelmente, já não pode aplicar-se. Actualmente, na altura da vida em que precisamos de tranquilidade e de um certo desafogo financeiro, não há certezas nem esperanças…
Não me sinto discriminada pela profissão, sexo (não escondo o rosto atrás de uma burca) ou cultura. As minhas oportunidades não são condicionadas pela região onde vivo, a minha orientação sexual, as convicções ideológicas ou pela (des) crença, estão sim sujeitas à minha situação financeira, condenada a agravar-se sem que haja expectativas à vista, uma tempestade que tenho de atravessar sem bonança no horizonte…
Se a inserção está ligada a todas as pessoas que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade, então, cada vez serão mais os excluídos socialmente…
O Ministério da Igualdade teve uma existência curta, foi criado e extinto há uns anos, quase sem darmos por ele, talvez porque a igualdade, que se apregoa como um direito, é quimérica e não é sustentável…
Sugam-me a vida e a esperança, mastigam-me até ficar sem sabor, trituram-me, reduzem-me a nada, arrastam-me numa tormenta que não criei…
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Sugam-me a vida
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Estive a ler as suas recordações e gostei muito. Moro no Monte Abraão há cerca de 30 anos e desconhecia o valor histórico da freguesia.
Vejo que terminou de publicar em 2013, espero que esteja tudo bem.
Um abraço.
Olá Isabel, provavelmente já não lerá a minha resposta, mas faço sempre questão de responder a um comentário, mesmo que tenha passado algum tempo.É verdade que deixei de publicar em 2013, não por falta de vontade, apenas porque o corre-corre da vida me impede de o fazer. O tempo é implacável e eu tenho tantos interesses que alguns lá vão ficando para trás... Em qualquer altura poderei voltar ao Balada...
Quanto às minhas memórias, depreendo que sejam as que estão ligadas à minha escola e à casa dos meus avós.
Grata pelo seu comentário.
Enviar um comentário