quinta-feira, 31 de outubro de 2013

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A última jogada

Ao fim de 74 anos a fabricar diversões para a família, a Majora encerrou a produção. Para trás ficam mais de 300 jogos.
Há muito, muito tempo, se calhar numa outra era, havia um boneco mágico. Chamavam-lhe Sabichão e era uma figura de madeira pintada, com um ponteiro de arame que os ‘putos' rodavam para fazer perguntas.O senhor Sabichão acertava sempre na resposta: rodava em cima de um espelho de vidro e apontava para a solução de todos os mistérios, fossem eles do corpo humano, da anatomia, ou da história de Portugal. Gerações e gerações deliciaram-se com este jogo da Majora, que até estava para se chamar “Eu Sei Tudo”, não fosse esse o título de um jornal de Coimbra.
O jogo não estava para se chamar “Eu Sei Tudo”, a verdade é que a primeira versão chegou a chamar-se assim, como podem confirmar:
Euseitudo
Eu-Sei-Tudo-Majora-Anos-60
Fernando Freitas é, com Alfredo Amável, a pessoa que guarda as chaves da empresa, na rua Delfim Santos. Mostra as amplas salas vazias onde se produziram milhões de jogos, até fevereiro deste ano, altura em que os últimos trabalhadores da Majora foram mandados para casa. Nessa altura, já só estavam na empresa cerca de trinta. Hoje restam pilhas de caixotes que guardam centenas de jogos novos, ainda selados nas embalagens de plástico com que seguiam para as lojas.A maquinaria já foi desmontada e o pequeno museu que mostrava algumas das mais bonitas peças desenhadas naquela fábrica está quase todo metido em caixotes. "Custa muito ver isto. Entrei aqui em 1975, foi uma vida passada aqui", diz Fernando Freitas, que correu vários departamentos da Majora até se fixar no de Recursos Humanos. "A empresa sempre tratou muito bem os trabalhadores", diz.Para Alfredo Amável, o fim era inevitável. "Os jogos electrónicos, os telemóveis e os computadores tomaram conta do mercado e nós não tínhamos vocação para esse tipo de produtos. Ficámos cercados, não podíamos competir com todos os produtos estrangeiros que chegam às lojas. As vendas começaram a cair progressivamente e quando a produção acabou ninguém ficou surpreendido".
Os tempos mudaram, as crianças já não brincam como antigamente, aliás, as crianças brincam cada vez mais sozinhas. Os tempos mudaram, as meninas já não brincam com bonecas, os meninos já não brincam com carrinhos, as crianças já não brincam com jogos de tabuleiro nem jogam às cartas. A infância deixou de ser uma fase de criatividade e descobertas para passar a ser uma fase em que a capacidade criadora é entregue de bandeja pela indústria tecnológica. Os tempos mudaram, há que acompanhar o progresso, mas parece-me que as crianças de hoje em dia crescem rapidamente, já não querem ser crianças, já não sonham…
Os tempos mudaram, mas acredito que foram as minhas brincadeiras de infância e os meus sonhos que fizeram a adulta que sou hoje…
A Majora fechou portas e, dentro daquelas paredes, junto com as mais bonitas peças desenhadas naquela fábrica, estão algumas das minhas mais doces memórias aconchegadas em caixotes.


sábado, 26 de outubro de 2013

Postcrossing (48)

Unesco

Selos_Unesco

DE-2294940 enviado pela Helga
Mais um postal referente ao Património Mundial da Humanidade. Desta vez, uma vista aérea da Igreja de São Miguel, em Hildesheim. Esta igreja tem cerca de mil anos e é uma das igrejas românicas mais bonitas da Alemanha e uma obra marcante da arte medieval. O tecto, de madeira, tem uma pintura do século XIII e mostra “A Árvore de Jessé”, uma representação artística da árvore genealógica de Jesus Cristo a partir de Jessé, pai do rei David.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sugam-me a vida

Sinto-me, cada vez mais, uma “pastilha elástica”.O dia-a-dia e a sociedade vão-me mastigando até que fique sem sabor, depois irão cuspir-me, deitar-me fora quando não tiver mais préstimo...
Conforme os anos passam, apercebo-me que os melhores anos da minha vida se afastam cada vez mais do presente e não consigo vislumbrar um futuro, muito menos um futuro risonho...
Sugam-me a vida e a esperança. Bem me agarro a essa vida e a essa esperança, mas a amargura cola-se-me à pele,  não há como fugir às sanguessugas...
No “tempo da outra senhora” só os filhos das famílias com posses tinham oportunidade de estudar, particularmente os que viviam nas grandes cidades. Sinto que caminhamos para o mesmo… sem ter em conta se vivemos na cidade ou no campo.
Todas as pessoas são iguais e têm direito a oportunidades iguais, mas no mundo as coisas não funcionam assim. Todas as pessoas devem ter as mesmas oportunidades independentemente do sexo, da raça, da língua, da religião, das convicções políticas ou ideológicas, da orientação sexual, etc., mas a verdade é que a situação financeira é um elemento que traz desigualdades bem visíveis. As famílias com melhores condições financeiras podem oferecer aos filhos benefícios, actividades e alguns bens e auxiliares educativos que eu não posso. Assim, o sucesso não depende apenas das faculdades intelectuais, mas das oportunidades, sejam elas educativas ou não. As oportunidades são condicionadas pelo estatuto económico e este limita o desenvolvimento cultural das pessoas.
Sugam-me a vida e a esperança. A esperança de progresso, de facultar às minhas filhas uma vida mais despreocupada, de lhes dar a possibilidade de se aperfeiçoarem e se prepararem melhor para um mundo cada vez mais exigente, enfim, garantir-lhes o que os meus pais me proporcionaram. Claro que os meus pais, com a minha idade, tinham uma vida estável, como era natural que acontecesse quando entrávamos numa fase da nossa vida. Esse princípio, lamentavelmente, já não pode aplicar-se. Actualmente, na altura da vida em que precisamos de tranquilidade e de um certo desafogo financeiro, não há certezas nem esperanças…
Não me sinto discriminada pela profissão, sexo (não escondo o rosto atrás de uma burca) ou cultura. As minhas oportunidades não são condicionadas pela região onde vivo, a minha orientação sexual, as convicções ideológicas ou pela (des) crença, estão sim sujeitas à minha situação financeira, condenada a agravar-se sem que haja expectativas à vista, uma tempestade que tenho de atravessar sem bonança no horizonte…
Se a inserção está ligada a todas as pessoas que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade, então, cada vez serão mais os excluídos socialmente…
O Ministério da Igualdade teve uma existência curta, foi criado e extinto há uns anos, quase sem darmos por ele, talvez porque a igualdade, que se apregoa como um direito, é quimérica e não é sustentável…
Sugam-me a vida e a esperança, mastigam-me até ficar sem sabor, trituram-me, reduzem-me a nada, arrastam-me numa tormenta que não criei…

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Corta!…

Os castelos e as quinas, da bandeira nacional, foram substituídos por tesouras, na verdade, tesourinhas deprimentes… 

Cortugal

Cartoon de Henrique Monteiro

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Memórias e Afectos (110)

O autor destes desenhos foi César Abbott, nascido em 1910 no Porto e filho do pintor Tomás Abbott. Contribuiu com a sua arte para o meu crescimento, pois fez centenas de desenhos para livros e jogos da Majora. Ilustrações muito próprias, típicas do Estado Novo, que me transportam aos tempos da minha infância…

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Fahrenheit 451

Fahrenheit 451 é uma adaptação cinematográfica do romance homónimo de Ray Bradbury, dirigida por François Truffaut e, curiosamente, o seu primeiro filme em inglês.
Apesar de ser um filme dos anos 60, passa-se num futuro hipotético. Sabemo-lo através de um transporte inovador para a época, um monocarril, e, principalmente, porque num diálogo inicial ficamos a saber que as casas são à prova de fogo. Neste filme, a função dos bombeiros não é apagar fogos, mas sim queimar livros.
Nesta sociedade imaginária, os bombeiros eliminam todo o rasto de literatura que encontram porque os livros são considerados perigosos para a estabilidade social. O nome da corporação de bombeiros que se entrega a essa tarefa exclusiva é precisamente o título do filme e tem um significado especial: é a temperatura a que o papel dos livros incendeia e começa a queimar.
O filme mostra-nos uma sociedade totalitária que controla o acesso ao conhecimento e à informação, mantendo o povo na ignorância. A população vive alheada, depende da televisão e interage com ela de uma forma patética como se os apresentadores dos programas fossem da família. Bradbury explorou os efeitos que a televisão tem nas pessoas e como destrói o interesse pela leitura. O protagonista, Montag, um bombeiro da corporação, começa a questionar estes comportamentos e começa a esconder livros em casa e a lê-los, acabando por se insurgir e mudar totalmente o seu destino.

fahrenheit-451

Fahrenheit 451 continua atual e faz-nos pensar. Pensar que uma sociedade evoluída não é sinónimo de literacia, que é preciso combater a falta de conhecimentos e a ignorância, que, ao contrário do que nos é apresentado no filme, os livros têm muito a dizer, que não fazem as pessoas ficar descontentes, que as pessoas que lêem são felizes. Faz-nos pensar que sem livros, todo o conhecimento humano morreria, que os livros não serão ultrapassados pelas tecnologias.
É um filme que apela à leitura e à descoberta dos grandes livros, é um filme que me fez sentir privilegiada por viver numa sociedade livre em que ler não é proibido.
Destaco uma, das muitas frases memoráveis, quando Montag, já convertido, critica os discípulos da televisão:“Vocês não passam de zombies. Não vivem, apenas matam o tempo.”

terça-feira, 15 de outubro de 2013

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Postcrossing (47)

UAfrente

UASelos
UA-659943 enviado pela Olga
Um postal de Kiev com o símbolo do Euro 2012. Neste europeu de futebol, a Polónia e a Ucrânia foram os países anfitriões.
Em destaque, a Porta Dourada (Zoloti Vorota), a entrada da cidade histórica, é uma das antigas entradas da cidade, uma estrutura em madeira do século XI, com uma capela no interior, reconstruída em 1982.
Em cima, à esquerda, Philharmonic Hall, o prédio histórico construído no final do século 19, sede da Filarmónica Nacional da Ucrânia, embora, inicialmente pertencesse ao Conselho de Anciãos dos Comerciantes de Kiev.
Em baixo, à direita, a Casa Gorodetsky, um lindíssimo edifício Art Nouveau, construído, entre 1901 e 1902, pelo arquitecto Vladislav Gorodetsky, considerado como o Gaudi de Kiev. Originalmente foi um prédio de apartamentos requintados e os seus ornamentos representam várias cenas de caça e animais exóticos, pois Gorodetsky era um caçador.

gorodetski-house-hunting
GH1

domingo, 13 de outubro de 2013

Livros e Mar: eis o meu elemento! (79)

Madrugada Suja não é uma obra baseada em factos reais, é pura ficção. No entanto, não posso dizer que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência porque o autor nos mostra um retrato notável da sociedade portuguesa, pós 25 de Abril até aos dias de hoje. Chamar “os bois pelos nomes” é apanágio do autor e em Madrugada Suja não é diferente. Muitas das passagens são testemunhos exemplares do que, lamentavelmente, se passa no nosso país.
Nas primeiras páginas, um grupo de jovens estudantes alcoolizados passa todos os limites, os acontecimentos precipitam-se, e o que não devia passar de uma vulgar e divertida noite de copos transforma-se numa fatalidade. O que se passou nessa madrugada torna-se num pesadelo que irá perseguir os jovens, envolvidos no acontecimento, durante anos.
Através de uma narrativa alternada de três gerações, vamos conhecendo os protagonistas da história, habitantes de uma aldeia do interior alentejano que aos poucos vai ficando despovoada até ficar apenas um morador, o avô de Filipe. O jovem deixou a aldeia para se instalar no litoral alentejano e trabalhar numa autarquia local, como arquitecto. Por força do exercício das suas funções, Filipe vê-se perante um caso de corrupção que o leva a regressar ao passado, além de o conduzir pela promiscuidade dos políticos e manobras ilícitas dos autarcas, ao mesmo tempo que se questiona sobre os valores morais e a integridade.

[…] Fora a época dourada dos grandes dinheiros europeus, em que bastava apresentar um projecto e Bruxelas financiava. Os governos projectavam, construíam, mostravam, ganhavam eleições. A banca intermediava, comissionava, cobrava, prosperava. O PIB crescia, os imigrantes afluíam e não havia credores à vista: só os parvos desconfiavam de tanto “desenvolvimento”. […] […] Todos estavam endividados, mas felizes: o Estado, as autarquias, os cidadãos. […]

Extra análise do livro:
Agora, pagamos pelos erros cometidos e pelos que se continuam a cometer. Pagamos pelo dinheiro da UE que estes senhores desbarataram fraudulentamente, beneficiando algumas “máfias” e amigos, pagamos as subvenções escandalosas, os Institutos e Fundações ineficazes e inúteis, os custos com a Presidência da República e a Assembleia, as viaturas de luxo, os vencimentos dos políticos, os escabrosos financiamentos dos partidos políticos, enfim, pagamos os interesses pessoais de quem nos governa há anos passando por cima dos interesses do povo e do país, uma corja de manhosos e de aldrabões.
Como alguém disse, e eu subscrevo, só na Ditadura as Contas Nacionais estavam “certas ao tostão”…

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No princípio, há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba num pesadelo que vai perseguir os seus protagonistas durante anos. Depois, há uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar apenas um avô e um neto. Filipe, o neto, parte para o mundo sem esquecer a sua aldeia e tudo o que lá aprendeu. As circunstâncias do seu trabalho levam-no a tropeçar num caso de corrupção política, que vai da base até ao topo. Ele enreda-se na trama, ao mesmo tempo que esta se confunde com o seu passado esquecido. Intercaladamente, e através de várias vozes narrativas, seguimos o destino dessa aldeia e em simultâneo dos protagonistas daquela madrugada suja e daquela intriga política. Até que o final do dia e o raio verde venham pôr em ordem o caos aparente.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Mais um dos meus “tesouros”

Jogo de cartas dos anos 50/60 com instruções em Inglês, acompanhado de uma “carta” de Enid Blyton aos fãs…

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sábado, 5 de outubro de 2013

Memórias e Afectos (109)

No liceu, as tardes desportivas obrigatórias eram, como se subentende, impostas e inevitáveis. Como sempre fui avessa à ginástica e nunca fui muito atlética, como tudo o que é obrigação deixa de me dar prazer, este espírito um pouco militarista irritava-me. Só na modalidade de basquetebol encontrei alguma satisfação e, embora a minha pequena estatura, não me saía mal. Diga-se, em abono da verdade, que a minha próspera imaginação fazia milagres e algumas dessas tardes espartanas, que deveriam ser passadas a manter corpore sano, eram passadas num café, longe de casa, a fazer quadras humorísticas com a N, isto é, a manter a mente sã
Só os desportos aquáticos me entusiasmavam, razão pela qual, como já descrevi aqui, frequentei as aulas de natação, gratuitas, no Sport Algés e Dafundo, através da Mocidade Portuguesa. Até 1971 a filiação na MP e na Mocidade Portuguesa Feminina eram obrigatórias, mas eu nunca fiz parte de nenhum dos 4 escalões. Sei que é estranho, tendo em conta o regime totalitário da época, mas não fui obrigada a pertencer às Lusitas nem às Infantas, não fui Vanguardista, nunca usei uniforme, nunca jurei o “compromisso solene”, nunca cantei o hino da mocidade lusitana. É verdade que fiz a instrução primária num Externato, mas em 1967 já frequentava o Ensino Público, numa secção do Liceu Passos Manuel, e não tenho recordações negativas desses tempos… A partir de 1972, a filiação tornou-se voluntária. Comprava a revista quinzenal “A Fagulha”, propriedade da Mocidade Portuguesa Feminina, e recordo-me de a ler de uma ponta a outra, assim como recordo a espera, ansiosa, do número seguinte…

Fagulha
Fagulha2

Mais tarde, eu a T. resolvemos mudar de modalidade e a escolha foi consensual, a vela. Segundo o historiador Ricardo Serrado, Salazar defendia que o desporto nacional deveria ser a vela. Das poucas vezes em que ele aparece com trajes desportivos, surge dentro de um veleiro e diz que se houvesse um desporto nacional deveria ser a vela, por estar ligada ao mar. Obviamente que não optámos pela modalidade por ser a primeira escolha de Salazar, evidentemente que, nessa época, pouco nos importava a opinião dos adultos, mesmo que esta fosse do “Chefe” da Nação portuguesa. Inscrevemo-nos na nova actividade. Estávamos em Março de 1974. A Organização Nacional da Mocidade Portuguesa, nascida em 1936, foi extinta pela Junta de Salvação Nacional a 25 de Abril desse ano, logo, todas as actividades desportivas gratuitas deixaram de existir. Nunca velejei… 
Desde essa altura até aos dias de hoje, muita coisa mudou. 
As actividades gratuitas passaram a ser pagas, e eu deixei de as praticar…

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Postcrossing (46)

FinlandiaParty

FinParty

FI-1795704 enviado por Ladybiker (nick)
O que posso eu dizer desta festa, de aniversário, canina? Que é o máximo! Todos de meias porque está frescote lá pela Finlândia…
Quanto a Ladybiker, conseguiu que eu estrebuchasse de inveja ao ler que teve cinco (5) semanas de férias… Terão sido em balão?