“D. Maria II” Tudo por um Reino. Isabel Stilwell surpreendeu-me com este magistral e memorável romance histórico. Apesar de ser uma leitora assídua dos seus editoriais, enquanto directora do jornal gratuito Destak (que julgo ter perdido com a sua saída…), nunca tinha lido nenhum dos seus romances, shame on me…
Fiquei de tal forma agradada com a sua escrita envolvente e simples, mas cuidada, que já adicionei os outros três romances históricos à minha lista (o problema é que esta não pára de aumentar…).
Recomendo sem reservas, sobretudo aos admiradores de narrativas históricas. E sou capaz de recomendar os outros de olhos fechados, ou seja, mesmo sem os ter lido… Para conhecimento, são eles: “D. Filipa de Lencastre”, “Catarina de Bragança” e “D. Amélia”.
Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança foi a filha primogénita do imperador do Brasil D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal), e da arquiduquesa D. Leopoldina da Áustria. Maria da Glória nasceu em terras brasileiras em 1819 (a família real tinha fugido para o Brasil quando das invasões francesas), três anos antes do famoso grito do Ipiranga que deu a independência ao Brasil em 1822. Entretanto D. João VI morre e, em 1826, D. Pedro IV (apaixonado pelo Brasil e pela sua amante Domitília de Castro) opta por ser imperador do Brasil abdicando do trono de Portugal em nome da filha, Maria, apenas com sete anos, que cedo se foi preparando para ser rainha.
O casamento da jovem com o seu tio, D. Miguel, é combinado na esperança de que em Portugal a paz e a causa liberal pudessem triunfar, mas tal não aconteceu. Aos nove anos é enviada para a Europa para ser educada pelos avós maternos na corte austríaca, mas, durante a viagem, D. Miguel proclama-se rei absoluto de Portugal, e o seu tutor considera mais seguro rumar até Londres. Aí conhece a jovem Alexandrina Vitória, a futura rainha Vitória do Reino Unido, com quem, mais tarde, virá a trocar correspondência ao longo do seu reinado e através dessas cartas vamos tomando conhecimento das muitas crises políticas que Portugal atravessa, assim como das alegrias e dos dramas das duas famílias.
Em 1828, desencadeia-se uma guerra civil entre absolutistas, apoiantes de D. Miguel, e liberais, apoiantes de D. Maria, mas chefiados pelo próprio imperador do Brasil. As Guerras Liberais entre os dois irmãos prolongaram-se até 1834, ano em que os liberais conseguiram que D. Miguel renunciasse e partisse para o exílio e colocar definitivamente D. Maria no trono.
Casa, em 1835, com Augusto de Beauharnais, da Família Real da Baviera, que morre pouco depois. Novo casamento é negociado e a escolha recai sobre Fernando de Saxe-Coburg-Gotha, sobrinho de Leopoldo de Saxe-Coburg que ocupava o trono belga com o título de Leopoldo I. Fernando era primo de Alberto, que veio a casar com a rainha Vitória com quem teve 9 filhos.
O casamento político de D. Maria com Fernando de Saxe-Coburg-Gotha depressa se converteu num casamento por amor e deste matrimónio nasceram 11 filhos (quatro morreram à nascença), todos eles no Palácio das Necessidades, onde sempre viveram. D. Maria II morreu de parto aos 34 anos e D. Fernando assumiu a regência até à maioridade do primogénito, D. Pedro V, que reinou apenas 10 anos e como não deixou descendência sucedeu-lhe o irmão, D. Luís, pai de D. Carlos.
D. Fernando era um homem de grande cultura, evitava sempre que possível a política, preferindo dedicar-se às artes e foi um protector do nosso património. Atraído pela serra de Sintra, adquiriu as ruínas do Mosteiro de Nossa Senhora da Pena e áreas circundantes para aí edificar o singular e deslumbrante Palácio Nacional da Pena. O Pinheiro de Natal foi um costume introduzido em Portugal por D. Fernando que mandava decorar um abeto com velas, laços e bolas de vidro transparente.
O reinado de D. Maria II foi marcado por muitos confrontos e, na opinião de alguns historiadores, a rainha terá cometido erros graves como governante (não posso deixar de concordar porque depois de uma guerra civil para implementar a monarquia liberal, D. Maria II reinou de uma forma despótica, como uma monarca absolutista…). Exemplo disso é o facto de Costa Cabral, depois de nomeado ministro do reino, dominar toda a administração, chegando a colocar familiares em cargos considerados políticos (prática que dura até aos nossos dias…), e dominar mesmo a própria rainha que, apesar da revolta do povo e nem sempre ter o apoio do marido, continuou a protege-lo e deu-lhe o título de Marquês de Tomar.
No entanto, é impossível não admirar D. Maria II que, não obstante as crises políticas que assolaram o país, foi uma mulher de coragem que soube conciliar os assuntos de Estado com a vida familiar, nunca descurando nenhum deles.
Foi, para mim, fascinante ficar a conhecer a rainha Vitória, tão diferente de D. Maria II. Sem prepotência, mas com garra, conduziu os destinos do Império Britânico pedindo a opinião sobre as suas decisões aos ministros e ao marido, e durante o seu longo reinado o Império desenvolveu-se e consolidou-se.
Segundo a autora, a rainha D. Maria II e a rainha Vitória eram primas, mas não consegui encontrar a confirmação desse parentesco, a não ser por parte dos respectivos cônjuges que eram, de facto, primos direitos.
Nota: A leitura deste resumo não dispensa a leitura do livro…
Com apenas 7 anos, Maria da Glória torna-se rainha de Portugal. Um país do outro lado do oceano que nunca havia pisado. A sua infância foi vivida no Brasil, entre o calor e os papagaios coloridos que admirava na companhia dos seus irmãos e da sua adorada mãe, D. Leopoldina. A ensombrar esta felicidade apenas Domitília, a amante do seu pai, imperador do Brasil e D. Pedro IV de Portugal. Em 1828 parte rumo a Viena para ser educada na corte dos avós. Para trás deixa a mãe sepultada, os seus adorados irmãos e a marquesa de Aguiar, sua amiga e protetora. Traída pelo seu tio D. Miguel, que se declara rei de Portugal, e a quem estava prometida em casamento, D. Maria acaba por desembarcar em Londres onde conhece Vitória, a herdeira da coroa de Inglaterra a quem ficará para sempre ligada por uma estreita relação de amizade. Aos 15 anos, finda a guerra civil, D. Maria pisa pela primeira vez o solo do seu país. Seria uma boa rainha para aquela gente que a acolhia em festa e uma mulher feliz, mais feliz do que a sua querida mãe. Fracassada a sua união com o tio, agora exilado, casa-se com Augusto de Beauharnais que um ano depois morre de difteria. Maria era teimosa, não desistia assim tão facilmente da sua felicidade e encontra-a junto de D. Fernando de Saxo-Coburgo-Gotha, pai dos seus onze filhos, quatro deles mortos à nascença.
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