Nas cento e oitenta e sete páginas de “A hora Má, o Veneno da Madrugada”, Garcia Márquez não conseguiu prender-me, apesar da indiscutível escrita talentosa. Talvez porque o enredo, repleto de censura mordaz à política e à religião, e as personagens corruptas representadas, façam parte de uma realidade social de tal forma generalizada que já não me surpreende nem seduz… Que me perdoe o galardoado Márquez, mas foi uma leitura algo insípida e que me soube a pouco, muito pouco…
A um povoado perdido na América do Sul chegou a hora má dos camponeses, a hora da desgraça. Certo amanhecer, enquanto o Padre Ángel se prepara para celebrar a missa, ouve-se um tiro na aldeia. Um comerciante de gado, informado da infidelidade da mulher por um papel colado na porta da sua casa, acaba de matar o seu presumível amante. É um dos pasquins anónimos cravados durante a madrugada nas portas das casas, que não são panfletos políticos mas apenas denúncias sobre a vida privada dos cidadãos, e que nada revelam que não seja do conhecimento de todos há algum tempo. São os velhos boatos que agora se tornam públicos: traições amorosas e políticas, assassinatos, segredos de família envolvendo filhos bastardos e romances escusos. Todos se sentem atingidos e ameaçados, dos cidadãos mais eminentes aos mais humildes. Todos parecem ter algo a esconder e a revelar. Qualquer habitante pode ser o autor dos bilhetes ou a próxima vítima.
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