Não consigo ajuizar as notícias assim que são do conhecimento público. Fico a digerir a informação e quando tenho tempo para opinar ou me falta a vontade ou deixou de ser oportuno falar no assunto. Como está na moda dizer-se, “é uma questão de timing”. Desta vez, porém, mesmo sendo inoportuno, vou opinar, embora tenham que levar uma seca antes de chegar à notícia propriamente dita…Utilizo para postar, por sugestão da minha filha A e agora por sistema, o Windows Live Writer. Trouxe-me algumas vantagens em relação às colocações directas no blogger porque é dotado de uma maleabilidade que torna tudo mais fluído. Quando começo um texto sei, de antemão, que demorarei três ou quatro dias a escrevê-lo. Ou não gosto do início, ou não me agrada a forma como me exprimo, ou não aprecio a linguagem, ou escrevo o texto de novo, enfim, tento ser purista (não quer dizer que seja bem-sucedida…) e, por vezes, tenho mesmo uma revisora de provas! Como não sou perita em gramática (se o meu avô J.J. lesse isto…) e escrevo de ouvido… tenho receio de dar umas calinadas na pontuação e é aí que entra a minha revisora para que não existam ou faltem vírgulas. É ou não verdade que uma despretensiosa vírgula colocada no sítio errado pode mudar o sentido do texto ou da frase? Ainda há dias publiquei um excerto de uma crónica e só não corrigi as vírgulas porque eticamente me sinto obrigada a transcrevê-lo sic, isto é, exactamente como foi escrito. Do mesmo modo que engalinho com frases gramaticalmente mal construídas também me abespinho com algumas “preciosidades” da língua portuguesa que se espalharam rapidamente entre nós como uma epidemia. É o caso da troca do “há” pelo “á” e o “a” sozinho com acento agudo e não grave. Trocam o “há” do verbo “haver” por uma coisa que não existe na língua portuguesa porque o “a” sozinho nunca tem acento agudo, é totalmente incorrecto. Vamos á feira? E o acento grave, ficou onde? Debaixo das saias da avozinha? É grave!... Á conquilhas? Á bifanas? Será porque o “h” é mudo? A malta não o ouve e, pela calada, ignora-o totalmente. Então, porque cargas d’água não escrevem “ipermercado”, “omem”, “oje”, “ospital”? Nem sei como rotular isto, se (h)ilariante ou (h)eresia, mas que eu fico a (h)iperventilar, fico…Estas “pérolas” da nossa língua não ficam por aqui. Rezo ao eloquente São Francisco de Sales para que as pessoas não escrevam como falam porque oiço tanta patacoada… “Leva-zo” em vez de “leva-o” ou “leva-lo”; “puze-o” em vez de “pu-lo”. Enfim, todos sabemos que “herrar é umano”… “poriço” não vou alongar-me mais até porque já divaguei o suficiente, mas lá diz o ditado “a divagar se vai ao longe”…
Notícia: Durante uma conferência de imprensa, o ministro da Educação e Ciência anunciou que, a partir de 2013, os alunos do 4.º ano vão passar a ter exames que contarão para a nota final. Inicialmente terão um peso de 25% e no ano seguinte a ponderação será de 30%.
Li alguns comentários à notícia e fiquei estupefacta! Desde dizerem que ainda as crianças não sabem quase falar e andar e já estão com exames em cima, passando pelos problemas de pressão e ansiedade a que os miúdos são submetidos, que não é saudável, até chamar à baila a recriação da Mocidade Portuguesa, as coisas mais descabidas foram escritas. Não li todos, mas calculo que também terão dito que é traumatizante…
Os obstáculos fazem parte da vida, há que ultrapassá-los, tornam-nos mais fortes. Podemos comparar a nossa vida a uma corrida com barreiras ou com obstáculos ao longo do percurso. Há quem passe sem as derrubar, mas até mesmo um bom “atleta” encontra, numa ocasião ou noutra, dificuldades na corrida. Ora, se retirarmos os obstáculos no início do percurso e os colocarmos numa etapa mais avançada da vida, acabamos por aprender da pior maneira, ou seja, é tarde, faltámos ao treino inicial. Do meu ponto de vista, não faz mal nenhum à criança passar pela tensão de um exame, pela preocupação e incerteza, porque ao longo da vida vai passar por um indeterminado número de situações de pressão e será benéfico que vá treinando porque é o treino que, ao criar um hábito, faz reduzir o stress. No futuro estarão mais aptos para enfrentar as adversidades que encontrem pelo caminho.
Como já o disse, num outro “post”, passei por 3 exames na instrução primária, exame da 4ª classe, exame de admissão às escolas técnicas (na Pedro de Santarém) e exame de admissão ao liceu (na Marquesa de Alorna). Todos com provas escritas e orais! Durante os anos seguintes passei por mais exames. Em todos me esforcei, todos me apoquentaram. Todos me fizeram crescer, nenhum deles me deixou marcas, nenhum deles me traumatizou, e não houve um único momento em que tivesse passado pela cabeça dos meus pais, ou pela minha, que eu fosse vítima de um sistema de ensino retrógrado ou tal facto reprimisse o meu crescimento saudável e natural.
Havia um sketch num programa do Jô Soares (Planeta dos Homens ou Viva o Gordo) em que um dos intervenientes perguntava posso falar o que eu acho? e o outro respondia pode... mas fala baixo! Pois eu falei alto, ou melhor, escrevi o que eu penso sem rodeios, e estou-me nas tintas para quem, como algumas figuras ilustres do país, pensar que isto é um recuo no ensino, um regresso ao passado, uma coisa do tempo do Estado Novo…
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