O Parque Infantil do Alvito, situado no Parque Florestal do Monsanto, marcou a minha infância pois foi lugar de muitas brincadeiras durante a década de 60. A primeira vez que lá entrei, ainda ele fazia, apenas, parte do meu imaginário, mas rapidamente passou a fazer parte da minha realidade e das minhas paixões.
Julgava eu que o parque teria nascido na década de 50, mas segundo pesquisas na Internet, foi o primeiro parque infantil de Lisboa e terá sido criado nos anos 40 pelo arquitecto Keil do Amaral, o mesmo que projectou o parque de diversões da Exposição do Mundo Português, e inaugurado pelo Estado Novo. Então, por onde andará a placa de inauguração desse tempo? Só existe esta de 2005?! É estranho… como é que o Santana Lopes inaugurou um espaço onde, certamente, brincou quando era criança?
Com o seu avião, carro dos bombeiros e o eléctrico, este último colocado no Parque Infantil do Alvito em 1961, onde resistiu durante mais de vinte anos, a variedade e abundância de baloiços, o ringue de patinagem, as piscinas, o lago e a esplanada; este espaço fantástico, de vários hectares, expandia-se por três patamares desnivelados e ligados por escadas laterais.
A diversão, nessas idas ao Parque do Alvito, começava assim que entrávamos no carro dos pais da minha amiga T, primeiro um Austin A40 e posteriormente um Austin 1100.
Por vezes, a N. e os pais juntavam-se a nós e creio que, nessa época, o pai da N. guiava um NSU. O mais cómico é que o pai da N., o senhor A., era um bocado nabo a conduzir e para ajudar à festa, nessa altura, o NSU era vulgarmente conhecido por Não Sejas Urso, ou seja, o senhor A. era alvo da chacota do pai da T. Uma vez, propositadamente, deu três voltas ao Marquês de Pombal e o senhor A. sempre atrás! Hilariante…
As tardes, passadas no Parque do Alvito, significavam divertimento e nós nunca deixámos créditos em mãos alheias, só parando para lanchar. Levávamos sempre o lanche de casa e recordo-me lindamente do cesto de verga, comprado na praça da fruta das Caldas da Rainha, que transportava a minha merenda. Enquanto brincávamos, os adultos conversavam, e os cestinhos e lancheiras ficavam nos bancos. À hora do lanche, a fome era negra. Uma vez, lembro-me como se fosse hoje, comecei a comer a sanduíche e senti a língua a picar. Estranhando o facto, abri o pão. A bela da sandocha estava pejada de formigas!... As sacaninhas estavam a banquetear-se com o MEU lanche! Que raiva! Talvez venha daí a minha aversão às formigas… Sim, ok, são grandes e incansáveis trabalhadoras (será por isso que me irritam?), mas eu prefiro mesmo as cigarras. Não têm olheiras, aproveitam o Verão e nunca me apareceram numa sandes… O único defeito que encontro nas cigarras é que não comem formigas…
O jogo “As sete famílias” é outra das carinhosas recordações que tenho dessas tardes no Alvito. A família do pescador, do jardineiro, do sapateiro, do alfaiate… Sempre tive uma invejazinha secreta da N. por ser dona e senhora daquelas cartas, mas o mais absurdo é que nunca as pedi de presente. Muitos anos mais tarde, decerto devido a uma frustração de infância, acabei por comprá-lo numa versão dos anos 90, contudo, já sem o encanto e o fascínio que eu tanto invejava naqueles distantes anos 60…
Quem conheceu o Monsanto de outros tempos, não desconhecerá que ali existiu um circuito de provas automobilísticas, o Circuito de Monsanto, mais tarde o Circuito de Montes Claros. Passava pela auto-estrada do Estádio Nacional (actual A5), estrada do Alvito, estrada de Montes Claros (Alameda Keil do Amaral), estrada do Penedo e terminava na estrada dos Marcos.
Quem diria que por aquelas estradas já passaram nomes consagrados do automobilismo nacional e não só? Decerto que se lembram de Joaquim Filipe Nogueira. Mais tarde teve um programa de prevenção rodoviária, na televisão, que se chamava “Sangue na Estrada”. Quem diria que pelas estradas do Monsanto já passaram ases do volante? E que ali já houve público entusiasta batendo palmas? O que as árvores do Monsanto já testemunharam...
(imagens cedidas "gentilmente" pelo Arquivo Fotográfico de Lisboa, outras roubadas "gentilmente" por mim)