segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Recuo tecnológico...
A Carroça
Apurei os ouvidos durante alguns segundos e respondi:
- Estou a ouvir um barulho de uma carroça.
- Isso mesmo - disse o meu pai - é uma carroça vazia.
Perguntei-lhe:- Como é que sabe que a carroça está vazia se ainda não a vimos?
- Ora - respondeu o meu pai - é muito fácil saber se uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz.
Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando, tratando o próximo com uma indelicadeza descabida, prepotente, interrompendo a conversa de toda a gente e querendo demonstrar ser a dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
- Quanto mais vazia a carroça, mais barulho faz!...
domingo, 30 de janeiro de 2011
A minha onda (26)
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Intelectual Vs Trolha
Depois fui amadurecendo. Esses sonhos de menina e moça foram-se desvanecendo, levando com eles os castelos e as pontes levadiças, deixando para trás somente os fossos… Já mais madura, a sensatez fez-me ver que escrever razoavelmente não era apanágio exclusivo e que eu era apenas uma no meio de milhões.
Embora o gosto e a necessidade de escrevinhar me tivessem sempre acompanhado, actualmente já não me sinto aplaudida e triunfante quando, ainda, alguém me diz que tenho jeito para a coisa. Limito-me a ficar contente, agradecer e seguir em frente. Esta maneira de estar, aliada à clara vulgaridade da minha escrita, deve-se também às minhas frequentes viagens pela blogosfera, onde tenho encontrado verdadeiras pérolas. Há, efectivamente, pessoas com um mérito excepcional, que soltam as palavras como quem solta balões ao vento, que casam as palavras de uma forma instintiva, intensa e expressiva, e me envolvem em sentimentos e emoções. A mestria e, em alguns casos, a genialidade que tenho encontrado em alguns blogues seriam dignas de obras literárias e confesso que certos textos me chegam a suscitar alguma inveja.
Posto isto, considerando que tenho perfeita consciência da superficialidade da maioria dos meus textos e não tendo qualquer pretensiosismo, continuarei o meu diário pessoal “escrevendo de ouvido” e esforçando-me para que os “post” sejam ortograficamente correctos, apesar da limitada eloquência da escrita.
O propósito do meu blogue é “falar comigo própria”, mas sei que tenho algumas pessoas a “ouvir-me”. Pensando bem, parece-me que há algum exibicionismo nesta apreciação rápida à noção do blogue, mas como não “dou a cara”, só “dou os pés”… o conceito do mesmo fica menos incomodativo e embaraçante…
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Self Publishing
Ando aqui por ver andar os outros
domingo, 23 de janeiro de 2011
Verde de inveja...
sábado, 22 de janeiro de 2011
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
E esta, hein?...
Vossa Excelência chamou…? (5)
Autor e Ilustrações: Júlio Borja
Nutrição: Oportunidade de investimento
“Sendo assim…” – indaga o leitor de mente ginasticada, olhar penetrante e forte vocação comercial – “… onde é que há por aí um nichozito de mercado para eu investir uns trocos sem ser esmagado pelas demolidoras máquinas de investigação científica e marketing das grandes empresas?” Fácil: faça ao contrário deles; invista no gato – e não no dono do gato – como seu cliente-alvo preferencial. Não, palavra: o meu amigo conhece algum gato ao qual aqueça ou arrefeça saber que a mistela que está a enfardar tem “vitaminas seleccionadas”, “elementos hiperproteicos com baixo teor de lípidos”, “minerais essenciais”, “glucosamina” ou “Ómega 3”? Claro que não. É para o lado que o gajo dorme melhor! O que ele quer é que aquilo lhe cheire e saiba bem! Por ele, o pacote tanto pode apresentar o selo de garantia de um pelotão de veterinários competentíssimos como a indicação “PERIGO: CIANETO!” seguida de uma caveira vermelha com duas tíbias por baixo, em cruz – é igual ao litro. Ele quer é que a mixórdia lhe puxe a vontade de enfardar até cair para o lado de gordo, enjoado, maldisposto e feliz. […]
[…] OK, OK… já pressinto a sua impaciência e a pergunta sacramental: “Mas, afinal, quais são os tais ingredientes miraculosos?!” Muito bem; tome nota: ao fim de muitos anos a observar atentamente as taras, manias e inclinações dos gatos, cheguei finalmente à fórmula definitiva para a mais suprema expressão da haute cuisine felina. A ração perfeita para levar qualquer gato ao Nirvana gustativo deverá conter, por embalagem de 250 gramas:
10 moscas e/ou gafanhotos e/ou bichos-de-conta, 1 rato gordo, 1 pardal, 1 sardinha, 50 gramas de manteiga, 5 ramos de qualquer planta verde, 10 gramas de relva, 10 gramas de bife de vaca cru, 5 gramas de pêlo de gato, essência de coliforme fecal felino q.b. (para dar o aroma). […]
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
O que (agora) me satisfazia completamente…(13)
um chocolate quente...
Fabuloso...
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Domingo sangrento
Basta-me dizer o filme que quero ver ou rever. Caso não tenha (raríssimo…), existe sempre a possibilidade de optar por outro do mesmo género ou com o mesmo actor.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Migrações periódicas
Eu, como qualquer mortal (e com a agravante de não ter onde cair morta…), não sou excepção e já tenho tido vários delírios de gente rica. Nadar, qual Tio Patinhas, num cofre-forte cheio de dinheiro é um deles…
Nestes dias de invernia, entre chuvadas, frio e vento, dou por mim a magicar o que faria se, por uma pirueta do destino, ficasse senhora de uma fortuna considerável. Sempre que estas ideias tolas surgem, trauteio a canção If I Were a Rich Man, que se tornou famosa há uns anos no filme Fiddler on the Roof.
If I were a rich man, if I were a wealthy man, I wouldn't have to work hard.
Dear God, you made many, many poor people.
I realize, of course, that it's no shame to be poor.
But it's no great honour either!
So, what would have been so terrible if I had a small fortune?
Nestes dias de invernia, o meu principal devaneio If I Were a Rich Woman… seria seguir de perto o nosso astro-rei. Os dias límpidos, de céu azul e soalheiros, são um bálsamo para a alma, dão-nos de bandeja o riso fácil e ficamos mais joviais e afectuosos. Quero-lhes tanto como a comida quer ao sal… Os dias bonitos de sol têm uma influência positiva nas minhas emoções e sentimentos e isso é uma condição sine qua non do estado de espírito perfeito.
Os últimos dias têm sido sombrios. O “capacete” enevoado instalou-se há dias e parece ter vindo para ficar. A cidade está mais triste e melancólica…Casacos, luvas, cachecóis e chapéus-de-chuva não combinam comigo. Anseio pela chegada da Primavera. Esta estação do ano tem um encanto qualquer que me faz renascer. Talvez seja o trinar das andorinhas, os dias que vão ficando maiores ou as cores e os odores que me despertam os sentidos.
De Outubro a Abril, If I Were a Rich Woman, corria atrás do sol por esse mundo fora. Migrava, como as aves, para regiões mais quentes e só voltava quando o sol em força voltasse… Desgraçadamente, jogo no Euromilhões desde o começo e até à presente data não fui contemplada com o tão apetecido primeiro prémio.
Assim, não tenho outro remédio… a não ser continuar a usar casacos e chapéus-de-chuva e sonhar com o que eu faria if I had a small fortune…
Sempre ouvi dizer que o que não tem remédio, remediado está! Tal como eu, remediada…
Message in a bottle (41)
Um cê a mais
Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio.
Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim!
Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião.
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham. As palavras transformam-nos.
Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto.
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Gente feliz com gatos (4)
Estudei muitos filósofos e muitos gatos.
A sabedoria dos gatos é infinitamente superior.
domingo, 9 de janeiro de 2011
Message in a bottle (40)
[…] Fico perfeitamente siderado quando vejo constitucionalistas a dizer que não há qualquer problema constitucional em decretar uma redução de salários na função pública. Obviamente que o facto de muitos dos visados por essa medida ficarem insolventes e, como se viu na Roménia, até ocorrerem suicídios, é apenas um pormenor sem importância. De facto, nessa perspectiva a Constituição tudo permite. É perfeitamente constitucional confiscar sem indemnização os rendimentos das pessoas. É igualmente constitucional o Estado decretar unilateralmente a extinção das suas obrigações apenas em relação a alguns dos seus credores, escolhendo naturalmente os mais frágeis. E finalmente é constitucional que as necessidades financeiras do Estado sejam cobertas aumentando os encargos apenas sobre uma categoria de cidadãos. Tudo isto é de uma constitucionalidade cristalina. Resta acrescentar apenas que provavelmente se estará a falar, não da Constituição Portuguesa, mas da Constituição da Coreia do Norte.[…]
sábado, 8 de janeiro de 2011
Missão ultra-secreta
Tenho amigos para saber quem eu sou. Quando os vejo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
A comemoração dos cinquenta anos do nosso muito querido amigo S. foi um acontecimento extraordinário e ficará para sempre na nossa memória como uma doce recordação. A fasquia está de tal modo elevada que vai ser complicado, ao próximo aniversariante a entrar no meio século, conseguir superar este evento e destronar a S. em organização e método.
No nosso grupo de amizades passou a existir uma suspeita de “conspiração” sempre que um de nós está prestes a atingir as cinco dezenas. É impossível (julgo eu…) que o dito aniversariante não desconfie de nada. Apesar da suspeição, inevitável, o S. não podia adivinhar uma comemoração desta envergadura. Tudo foi pensado com minúcia e meses de antecedência. Não me vou alongar com os detalhes, basta dizer que tudo estava perfeito!... Irrepreensível… Aplaudir a S. é insuficiente, não tenho palavras para descrever toda a audácia, paixão e empenho que dedicou para que este dia fosse um verdadeiro êxito. Tiro-lhe o meu chapéu!...
A “longa-metragem”, à qual não faltou o Leão da MGM, estava brilhante. A significativa homenagem prestada ao S. foi um contributo de todos os familiares, amigos e colegas que lhe querem bem. Disse ele, no seu discurso de agradecimento, que ter muito dinheiro não é sinónimo de fortuna, ter verdadeiros amigos é a nossa grande riqueza. Não posso estar mais de acordo. O S. aprecia e compreende esse tão nobre sentimento que é a amizade. Para nós é muito fácil transmitir-lhe todo o nosso afecto porque, como eu escrevi na minha mensagem, ele é um ser humano espontâneo e extraordinário que dá mais cor ao mundo, mais sentido às nossas vidas e nos faz acreditar que é bom viver…
Diz-se que os homens se assemelham aos vinhos, a idade estraga os maus e melhora os bons. Fazendo fé nisto, só tenho a dizer que o S. é no mínimo um Château Lafite…daqueles que só saber o preço dói… Creio que é mais fácil encontrar duas impressões digitais iguais do que um indivíduo tão íntegro e moralmente correcto como o S., não querendo com esta afirmação melindrar os outros amigos (todos uns queridos…) que também são pessoas muito bem formadas e com imensos princípios morais, coisa que vai faltando nos dias que correm. Tive a felicidade de ter amigos assim e, tal como ele, sinto-me bafejada pela sorte e milionária…
O ano de 1961 foi repleto de acontecimentos marcantes tanto a nível internacional como a nível nacional. Sentir-me-ia feliz se aos factos importantes ocorridos durante este ano pudesse acrescentar que o Sporting tinha conquistado o título de Campeão Nacional da 1ª Divisão, mas a dura realidade é que o vencedor foi o Benfica. O S. que me perdoe, mas não lhe posso dar essa alegria. No entanto, a data mais importante do calendário nacional é, sem margem para dúvidas, o nascimento do nosso "petit prince"…
Ao fazer cinquenta anos há coisas que nos parecem sem importância e passamos a dar mais valor à vida. Ao fazer cinquenta anos experimentamos um estatuto diferente e passamos a conviver com os cabelos brancos de uma forma mais serena. Ao fazer cinquenta anos sentimos que é mais fácil perdoar e esquecer as ofensas. Com cinquenta anos somos mais experientes, a inocência desapareceu, a juventude ficou bem distante e o tempo que temos à frente já parece curto para realizar os nossos sonhos. Com cinquenta anos apercebemo-nos que ainda precisamos dos nossos pais, mas chegou a altura de começarmos a ser pais deles e olhamos os filhos como se fossem eternas crianças. Com cinquenta anos procuramos fugir da solidão, embora vivamos intensamente o tempo que passamos sozinhos e donos de nós próprios.
A partir dos cinquenta anos devemos apenas memorizar os bons momentos e registá-los no coração, evitar as tristezas, não abandonar as esperanças, desfrutar dos sonhos e da fantasia, caminhar com segurança e saborear a vida porque o tempo é irrecuperável, não pode ser resgatado…
Por isso, guardem preciosamente num dos cantinhos da vossa memória o acontecimento de hoje para que daqui a alguns anos possamos revivê-lo juntos, como mais um momento feliz das nossas vidas…
Sinceramente, desejo que a nossa amizade permaneça para lá da distância e do tempo…
Nota: Parece-me que esta celebração foi um ensaio geral para a cerimónia que se aproxima, o matrimónio…e não há ninguém que duvide que os S’s são duas pessoas fantásticas que merecem que a vida lhes sorria…