sábado, 12 de janeiro de 2013

Livros e Mar: eis o meu elemento! (68)

“Visibilidade”, de Boris Starling. Que mais posso dizer que não esteja na síntese? Se me esticar, estarei a contar demais…
O suspense é uma constante nos livros deste autor e, como apreciadora de policiais, li o seu primeiro romance, “Messias”, e “Tempestade”. De Starling falta-me apenas ler “Vodka”, que tem estado a aboborar numa das prateleiras desde 2009 porque as suas 674 páginas pesam na mala de quem, como eu, anda de transportes públicos…
Boris Starling, que trabalhou como repórter para o The Sun e para o Daily Telegraph e ainda para uma organização especializada em negociações com raptores e investigações confidenciais, usufruiu, nessas funções, de um manancial de conhecimentos e experiências que emprega de uma forma admirável nas suas narrativas.

Visibilidade

Em Dezembro de 1952, com as sombras da guerra a esbaterem-se e com a Guerra Fria cada vez mais quente, Londres viu-se envolvida numa combinação mortal de poluição com condições meteorológicas adversas que ficou conhecida como o Grande Nevoeiro sendo responsável por mais de 12000 vidas. Neste miasma, um homem encontra a morte, nas águas baixas e geladas da Long Water. Alguns dizem que estava apenas bêbado, vagueando no Hyde Park. Mas, para Herbert Smith, novo detective da Scotland Yard o corpo torna-se uma pista muito mais interessante ao descobrir que a sua morte não foi acidental. Era bioquímico, e poucas horas antes de morrer tinha reclamado estar na posse de um segredo que podia mudar o mundo.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Postcrossing (17)

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BE-182622 enviado pela Greta
Esta avó belga fez o que todas as pessoas deveriam fazer. Leu o meu perfil, viu os meus favoritos e escolheu um postal a pensar em mim. Agradeço-lhe a amabilidade, as palavras atenciosas com que me brindou e esta vista espectacular da cidade de Antuérpia, a sua cidade natal, embora viva perto da fronteira com a Holanda e tenha enviado o postal de Roterdão.
A cidade de Antuérpia situa-se na Flandres, onde, segundo o Financial Times, vive o maior número de pessoas que dominam plenamente quatro idiomas. Os seus habitantes, os sinjoren, falam correctamente o neerlandês, o francês, o inglês e o alemão, e é mesmo possível encontrar ainda alguns falantes de espanhol, o que não é de estranhar, se pensarmos que a designação sinjoren deriva, provavelmente, do termo castelhano señores. A origem da palavra remonta ao século XVI, o século de ouro da cidade, em que se dizia que os habitantes de Antuérpia viviam com lujo de señores (luxo de senhores), utilizando o espanhol, tão importante nas relações comerciais da época.
Antuérpia alberga o centro de diamantes mais importante do mundo, um dos santuários mais restritos e conhecidos de todo o mundo, com uma superfície que abrange um quilómetro quadrado. Este centro internacional de lapidação e comércio destas pedras transacciona actualmente 85 por cento dos diamantes brutos e 50 por cento dos lapidados.
O postal mostra-nos o centro histórico e, sobressaindo na paisagem, com os seus 123 metros de altura, o campanário da Catedral de Nôtre Dame, cuja construção se iniciou no século XIV e que conserva ainda importantíssimas obras de Rubens.
O edifício da Câmara Municipal de Antuérpia (telhado grande e cinzento) é uma das construções mais belas e antigas da cidade, localizado na Praça Principal. Destacam-se também os famosos prédios de tecto triangular que definem a arquitectura típica da região.

Antu 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Let's look at the trailer (29)

Recomendo sem reservas esta minissérie, um épico medieval dois séculos após os acontecimentos de “Os Pilares da Terra”.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Livros e Mar: eis o meu elemento! (67)

Confesso que o entusiasmo que senti ao ler a sinopse de “Comboio Nocturno para Lisboa”, um dos maiores best-sellers europeus dos últimos anos, começou a desvanecer-se quando comecei a leitura. Apesar de a narrativa ser sólida e existir um fio condutor evidente, o escritor emprega uma linguagem demasiado pesada. Talvez por Pascal Mercier ser o pseudónimo literário do filósofo suíço Peter Bieri, o romance tem muitos pontos filosóficos sobre a morte, a solidão, a amizade, traumas, frustrações. O tema principal é imaterial, uma viagem em que a personagem principal questiona a sua existência.
Confesso, também, que sempre tive dificuldade em ajuizar conteúdos metafísicos, descobrir a essência das coisas, que é complicado questionar-me sobre as minhas decisões e angústias, que me deprime a introspecção, a descoberta do eu interior. Brincando um bocadinho, é assim como a geometria no espaço, transcende-me…
Apesar das duas confissões supracitadas, não escondo que acabei por gostar do livro. Nota-se que o autor tem alguma falta de conhecimento da realidade portuguesa no tempo do Estado Novo e trata com alguma “ligeireza” o regime salazarista, mesmo que, certamente, tenha feito recolha de dados, mas, tal como eu tenho dificuldade em compreender o impalpável, também se desculpa quem não viveu na ditadura…
A vida solitária e monótona de Raimund Gregorius, o protagonista da história, divorciado e professor de línguas clássicas num liceu em Berna, sofre uma mudança profunda quando um acontecimento insólito o faz largar a sua vida rotineira e partir num comboio nocturno para Lisboa. O encontro, num dia chuvoso, com uma mulher portuguesa que, prestes a saltar de uma ponte, desaparece depois de lhe escrever um número de telefone na testa, é o ponto de partida para a viagem. Evitando que salte, Raimund fica seduzido pela sonoridade das palavras da desconhecida que, questionada sobre a língua que fala, lhe diz ser português. Por casualidade, encontra, numa livraria espanhola, um volume editado em 1975 em Lisboa, com excertos filosóficos, intitulado “Um Ourives das Palavras” do português Amadeu Inácio de Almeida Prado. Tenta, recorrendo a um curso de português, traduzir passagens do livro e, fascinado com o que lê, resolve partir para Lisboa em busca de Prado. Já em Lisboa, descobre que Amadeu, um médico que se opunha ao regime de Salazar, faleceu em 1973, antes da Revolução de Abril. Começa, então, a procurar familiares, amigos e conhecidos que possam ajudá-lo a compreender a complexidade de Amadeu e a conhecer-se a si próprio…
E mais não conto!

Comboio nocturno

A sinopse apresenta uma falha. Amadeu Prado morreu antes da Revolução de Abril e não depois. Julgo que terão confundido o ano da morte com o ano da publicação do seu livro…

Tudo começa numa manhã chuvosa. Uma mulher prepara-se para saltar de uma ponte de Berna. Raimund Gregorius, um banal professor de grego e latim de 57 anos, evita o acto desesperado e fica surpreendido com o som de uma palavra. Português, responde ela, ao ser questionada sobre a língua que fala. Antes de desaparecer da história ainda tem tempo de escrever um número de telefone na testa deste míope professor que descobre, por acaso, um livro de um autor português, Amadeu Inácio de Almeida Prado, intitulado Um Ourives das Palavras. Sem conseguir explicar porquê, entra num comboio para Lisboa atrás deste médico que morreu 30 anos antes, em 1975, pouco depois da Revolução, numa descoberta do outro que acaba por ser uma descoberta de si próprio.
Amado pelos pobres que atendia de graça no seu consultório, Amadeu passa a ser rejeitado pelo povo no dia em que aceita tratar o "Carniceiro de Lisboa", assim conhecido por ser chefe da polícia política. Integrará posteriormente a resistência contra o regime de Salazar.
Porquê Portugal? Porquê a ditadura de Salazar? Estas são as perguntas mais feitas a um autor que admira Pessoa, "esse gigante da literatura", há mais de 20 anos, e escreve um livro do desassossego com a escrita de Prado a assemelhar-se aos textos do poeta português. Pela sua cultura, pela sua atitude de outros tempos, Raimund precisava de um ambiente de século XIX e Lisboa é a grande cidade europeia que mais se aproxima pelo seu aspecto, pela sua topografia, afirma Pascal Mercier, para quem a principal razão para escolher Lisboa e Portugal prende-se com o pai de Prado, um juiz em funções durante uma ditadura, mas que não trabalharia sob as ordens de Mussolini, Hitler ou Franco. "Salazar era diferente. Era um intelectual brilhante, era muito inteligente, culto, de uma brutalidade mais subtil que poderia seduzir pessoas como o juiz Prado e só nas ditaduras se dão as condições necessárias para tratar os problemas morais no contexto político."

Imprevisto singular: Quando Mercier/Bieri esteve em Lisboa pela altura do lançamento do livro, em 2008, fez um périplo pelos locais do romance acompanhado por um jornalista e um fotógrafo do jornal Expresso. Junto ao Arco da Rua Augusta, no momento em que o fotógrafo capta as últimas imagens do escritor, surge das arcadas uma mulher, Comboio Nocturno para Lisboa debaixo do braço. “Desculpe, o senhor é o autor deste livro, não é?” E o autógrafo já não escapa. Mercier sorri, ao ver a leitora a afastar-se, tão incrédula quanto ele. “Coisa incrível, não acham? Quem é que explica acasos destes?” Ninguém. Mas Amadeu de Prado, que na Lisboa ficcional do escritor suíço morreu ali a dois passos, era bem capaz de tentar.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Postcrossing (16)

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NL-1588561: enviado pela Bianca
A Bianca vive em Roterdão e enviou-me este postal. Diz ela, como se eu não soubesse, que a Holanda é a terra natal da vaca da raça holandesa.
Para que as vacas leiteiras continuem a ser recordistas na produção de leite, as mordomias chegam a ser inéditas. A cidade de Voorst conta com uma faixa para passagem de vacas. Segundo a agência “France Presse”, os motoristas devem parar e respeitar a sinalização, pois os animais têm preferência para atravessar… Cá, nem no tempo das vacas gordas…

vacas-atravessando-a-rua

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Afinal, o que é a inteligência?

(tradução livre do original “What is inteligence,anyway?”)
Isaac Asimov (1920-1992, físico e bioquímico russo, naturalizado americano, autor de obras de ficção e divulgação científicas)


Quando eu estava no exército, fiz um teste de aptidão, solicitado a todos os soldados, e obtive 160 pontos. A média era 100. Ninguém na base tinha visto uma nota destas e durante duas horas fui o assunto principal das conversas. Não significou nada – no dia seguinte eu ainda era um soldado raso.
Durante toda a minha vida consegui notas como esta, o que sempre me deu uma ideia de que era realmente muito inteligente. E imaginava que as outras pessoas também achavam isso.
Porém, na verdade, será que essas notas não significam apenas que sou muito bom para responder a um tipo específico de perguntas académicas, consideradas pertinentes pelas pessoas que formularam esses testes de inteligência, e que provavelmente têm uma habilidade intelectual parecida com a minha?
Por exemplo, eu conhecia um mecânico que jamais conseguiria passar num teste destes, acho que não chegaria aos 80 pontos. Portanto, sempre me considerei muito mais inteligente do que ele. Mas, quando acontecia alguma coisa ao meu carro e eu precisava de alguém para dar um jeito, era a ele que eu me dirigia. Observava como ele investigava a situação enquanto fazia os seus pronunciamentos sábios e profundos, como se fossem oráculos divinos. No fim, sempre era ele quem consertava o meu carro. Então imagine se esses testes de inteligência fossem preparados pelo meu mecânico. Ou por um carpinteiro ou qualquer outro que não fosse um académico.
Em qualquer desses testes eu comprovaria a minha total ignorância e estupidez.
Na verdade, seria mesmo considerado um ignorante, um estúpido.
Num mundo onde não pudesse valer-me do meu treino académico ou do meu talento com as palavras e tivesse de fazer algum trabalho com as mãos, dar-me-ia muito mal. A minha inteligência, portanto, não é algo absoluto mas sim algo imposto como tal, por uma pequena parcela da sociedade em que vivo.
Vamos considerar o meu mecânico, mais uma vez. Ele adorava contar piadas. Certa vez levantou a cabeça por cima do capô do meu carro e perguntou-me:
- Doutor, um surdo-mudo entrou numa loja de ferragens para comprar uns pregos. Colocou dois dedos no balcão como se estivesse a segurar um prego invisível e com a outra mão imitou umas marteladas. O empregado da loja trouxe um martelo. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro negativamente e apontou para os dedos no balcão. Dessa vez o empregado trouxe vários pregos, ele escolheu o tamanho que queria, pagou e foi-se embora. O cliente seguinte era um cego, queria comprar uma tesoura. Como acha que ele fez?
Eu levantei a minha mão e “cortei o ar” com dois dedos, como uma tesoura.
- O Dr. é muito burro mesmo! O cego simplesmente abriu a boca e usou a voz para pedir!
Enquanto o meu mecânico ria à gargalhada, comentou:
- Estou a fazer esta adivinha a todos os clientes hoje!
- E muitos caíram? Perguntei esperançoso.
- Alguns. Mas consigo eu tinha a certeza absoluta que ia funcionar.
- Ah é? Porquê?
- Porque eu acho que o doutor tem muitos estudos, mas não é lá muito esperto.
E algo dentro de mim me dizia que ele tinha alguma razão nisto tudo...

terça-feira, 1 de janeiro de 2013