sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Reservado à Indignação (46)

O festival Toro de la Vega, em Tordesilhas, é um dos mais antigos da Espanha, com raízes que remontam ao século XV. O touro tem que ser atiçado a atravessar o rio da aldeia para a planície Vega antes de ser morto em honra à Virgem da Penha.Todos os anos, na segunda terça-feira do mês de Setembro, um touro é perseguido a cavalo e a pé por centenas de pessoas, que o atingem com lanças até à sua morte. Muitos intelectuais espanhóis do mundo da arte, da cultura, dos negócios, do ensino, da medicina veterinária e da proteção animal já se uniram contra o festival, considerando-o sádico e cruel, e pedindo a sua abolição por meio de uma campanha. “Nós, signatários, rejeitamos que em Espanha se entenda como cultura a humilhação e a tortura de um ser vivo, que se chame de arte um derramamento de sangue”. “O Toro de la Vega representa apenas uma tortura pública, assim como os demais entretenimentos com touros em Espanha e em outros países latino-americanos. Exigimos a abolição de tais aberrações, recusamo-nos a ser cúmplices de um amanhã que se horrorizará com a crueldade de alguns ante o silêncio de tantos”, concluíram os signatários.Recuso-me a divulgar uma imagem deste espectáculo desumano, onde um animal é entregue à sua sorte com a desculpa de que é um bem de interesse cultural. Atrocidade é cultura? Que raio de gente é esta? Bestas, com instintos primários e animalescos, que fazem da matança uma festa. Piora, quando essa festa é de cariz religioso...
Se quiserem, assinem esta petição!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Message in a bottle (71)

O Futuro dos Nossos Netos (Por Maria Filomena Mónica «Expresso» de 18 Ago 2012)

Em 2001, publiquei um artigo intitulado «Os nossos filhos virão a ser mais ricos do que nós?», onde respondia afirmativamente à pergunta. Nascidos em 1963 e 1964, os meus tinham entrado para a instrução primária ao som do Imagine de John Lennon, viajado pela Europa no InterRail e conseguido um emprego após a conclusão dos estudos. Além disso, iriam herdar a casa que, no final de sucessivos adiamentos, tinha comprado com um empréstimo bancário. Mas o meu raciocínio continha uma falácia, comum aos herdeiros do Iluminismo: a de que o Progresso seguiria em linha recta até à glória final.
Seja como for, é dos netos que hoje pretendo falar. Sei, e eles sabem, que os espera uma vida dura, incerta e arriscada. A abundância do após-guerra sofreu uma tal martelada que a Rita, a Joana e o Miguel não podem encarar o futuro com a alegria com que o fiz ao celebrar os meus 18 anos. Como se não bastassem as elevadas taxas de desemprego juvenil, irão ter de pagar as pensões de um número crescente de velhos.
Há dias, foi divulgada uma estatística, que informava ter o número de jovens interessados em ir estudar para o estrangeiro aumentado, quando comparado com o ano passado, em 140%. Não precisava de ler isto para me inteirar do que se passa: bastou-me falar com a neta primogénita para me aperceber que elas e as suas amigas querem deixar Portugal o mais rapidamente possível. Para todos, filhos de ricos ou de pobres, o futuro é negro.
Os adultos com mais de cinquenta anos devem reflectir sobre a sua responsabilidade relativamente às gerações que não só terão de pagar a dívida pública que contraímos, como terão de competir, num mundo globalizado, com jovens oriundos de países onde o sistema público de educação é melhor do que o nosso.
Ia a meio deste artigo quando recordei que, em 1929, John Maynard Keynes tinha escrito um ensaio intitulado Economic Possibilities for our Grandchildren. Em pleno crash, o conhecido economista afirmara que, em 2.029, ou seja, num tempo muito próximo do nosso, o mundo seria infinitamente melhor. Previa que os cidadãos do século XXI apenas trabalhariam 3 horas por dia, o necessário para satisfazer as suas necessidades básicas, podendo ocupar os tempos livres a pintar, a ler e tocar música. Os seus netos teriam a possibilidade de se comportar como os lírios do campo, os quais, segundo a Bíblia, não trabalhavam nem fiavam, mas cresciam. Já Marx, em A Ideologia Alemã, sonhara com um esquema parecido. Ambos estavam, como sabemos, enganados.
Os meus netos têm diante de si não a perspectiva do ócio aristocrático, mas o pesadelo do desemprego. O erro de Keynes tem origem no facto de ter pensado que o mundo era sinónimo da Europa e, talvez mais importante, de ter acreditado que a Humanidade aspirava a levar o estilo de vida da clique elitista a que pertencia, o chamado Bloomsbury Group. Tomara eu que o mundo que espera os meus netos fosse o que Keynes delineou. Desgraçadamente, não é esse o caso.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Livros e Mar: eis o meu elemento! (61)

Orhan Pamuk, vencedor do Nobel da Literatura em 2006, conquistou-me inteiramente com este “Museu da Inocência”, publicado em 2008. Uma obra admirável, um livro que não esquecerei! Memorável é a palavra exacta para o qualificar. Memorável porque é um dos poucos galardoados, se não o único, que teve o sortilégio de me fascinar. Memorável porque é de uma perfeição, de uma profundidade, de uma sensibilidade e de uma riqueza narrativa ao nível de uma obra-prima. Memorável porque Pamuk casou as memórias da personagem principal com as memórias da própria cidade de Istambul. Memorável porque é um “cântico” ao amor e um tributo às lembranças de um tempo perdido, numa pureza de linguagem encantadora.
Já em 2012, Orhan Pamuk inaugurou em Istambul, na Rua Çukurcuma, o seu Museu da Inocência. O bilhete impresso no livro serve de ingresso…

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BILHETE
Numa entrevista à imprensa, por ocasião de inauguração do museu, o autor revelou que demorou seis anos a escrever o romance, ao mesmo tempo que ia colecionando os objetos que descreve no livro. Para Pamuk, “ o poder de um objecto jaz indubitavelmente nas memórias que guarda em si, e também nas vicissitudes da nossa imaginação e das nossas memórias”.


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O “Museu da Inocência” é uma história de amor, passada em Istambul, entre a Primavera de 1975 e os últimos anos do século XX, e conta a história da paixão obsessiva do herdeiro de uma família rica, Kemal, por uma prima afastada, Füsun, de um meio social menos favorecido. Mas Kemal está noivo da filha de uma das famílias da elite istambulense. Entretanto, Kemal começa a coleccionar objectos pessoais e outros que lhe fazem lembrar a sua amada. Esses objectos são simultaneamente um fetiche e uma crónica da sua felicidade e das mágoas, um mapa de sinais de todos os sítios onde estiveram juntos. Com o tempo, a compulsão do coleccionador acabará por dar origem a um verdadeiro museu, que também permite explorar uma Istambul meio ocidental e meio tradicional, a sua emergente modernidade e a sua vastíssima história e cultura.

sábado, 25 de agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Gato no divã

Os gatos, apesar de terem momentos de entusiasmo, são animais calmos. Ao contrário dos cães, gostam de sossego e preferem o sofá a correrias. Até aqui, estamos todos de acordo. Quando olhamos para um gato, a última palavra que nos vem ao pensamento é “stress”. Os meus gatos não são diferentes. A vida deles sempre foi tranquila, sem trepidações, manifestamente invejável. Julgava eu… até há pouco tempo!
Tenho conhecimento, por observação diária, que o Senhor T., o meu gato, na presença da minha gata, a Dona A. (não se espantem, os meus animais de estimação sempre foram tratados com alguma consideração; já tive um Senhor Tobias e uma Dona Mimi…), está constantemente em alerta vermelho, com um olho no burro e outro no cigano, sendo que, neste caso, o burro e o cigano são a singular e fogosa Dona A... Isto, porque esta “dama” passa a santa vida a chateá-lo. Claramente que nunca me passou pela cabeça que tal pudesse afectá-lo, até porque quem me lê sabe que ele se sabe defender muito bem.
Os gatos passam longas horas a dormir, mas também adoram a sua higiene diária e vagarosa e, portanto, não estranhei o comportamento ao vê-lo lamber-se demoradamente. O que não achei natural foi uma parte da barriga aparecer pelada como se tivesse sido escanhoada… Levei-o à veterinária. O diagnóstico foi célere, dermatite psicogénica… Como? A doutora está a dizer-me que o meu gato tem uma dermatite de origem psíquica? Riu-se, e explicou-me que uma mudança na vida do nosso animal de companhia, como por exemplo uma mudança de casa, modificar a disposição dos móveis, um novo cônjuge, o nascimento de um bebé, um animal novo em casa, ou qualquer factor de stress pode ocasionar alterações e padecimentos comportamentais.
Ok, mas não houve nenhuma mudança na vida quotidiana do Senhor T. Não mudei de casa, não alterei a disposição da mobília, não há animais novos em casa, não me amancebei nem nasceu nenhum bebé na família… Depois de ruminar no assunto lembrei-me que a rotina diária tinha sido alterada quando houve obras no telhado. Tanto ele como a Dona A. ficaram limitados a uma varanda e um quarto durante dias a fio, só tendo permissão para vaguear pela casa toda, à noite… Poderá ter sido isso que desencadeou a obsessão de arrancar o pêlo? Ou será que a gata é mesmo o agente causador desta mania?

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Há três formas de resolver o assunto. Distraí-lo é a primeira, e a mais aconselhada pela veterinária, mas morosa. Usar um colarinho (funil) plástico temporariamente para que não possa lamber-se (deve ser frustrante para um gato…) será a segunda opção. O terceiro procedimento envolve o uso de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos. Só faltava a médica dizer-me para, em último caso, levá-lo ao psicólogo… A quarta hipótese, acrescentada por mim, é muito higiénica e garante um resultado infalível. Deixá-lo arrancar o pêlo todo!... A casa fica com menos pêlos e o Senhor T. fica sem objectivo.
Até os animais têm desordens obsessivo-compulsivas como os seres humanos…

terça-feira, 21 de agosto de 2012

domingo, 19 de agosto de 2012

Rumo ao Sul… (2)

Depois de duas semanas de férias voltei ao emprego para duas semanas de trabalho intenso e produtivo (não vale mandar piadas…) e no dia 5 de Agosto rumei novamente ao sul para saborear mais duas semaninhas de férias. Assim, não me habituei às férias (nem ao trabalho…).
Ao contrário do primeiro período de férias, este foi mais buliçoso, contribuindo para tal o facto de estar acompanhada por amigos, o que não se verificou em Julho, e à migração efémera de privilegiados, onde me incluo, para as praias algarvias. Sinto-me, indiscutivelmente, uma bafejada pela sorte porque tenho amigos com casa no Algarve, logo, não pago um tostão pela estadia.
Desta vez, a calma deu lugar à agitação, aos almoços tardios, aos jantares noutro fuso horário, aos dias sem horas, à barracada, ao “casino” montado no exterior da casa, onde jogávamos pela noite dentro sem que a ASAE nos autuasse pela falta do pano verde na mesa de jogo, às conversas disparatadas, à cavaqueira sobre memórias que nunca vamos perder (meninos, espero não ser atacada pelo “alemão”!), aos episódios cómicos/burlescos… Mesmo com a minha falta de aptidão para o desenho, é fácil imaginar o que aconteceu ao ver esta pequenina sequência de quadrinhos… (tendo em atenção que no banco corrido e estreito estavam sentadas quatro pessoas, três gorduchos, dois deles nas pontas…e começaram a levantar-se!) Hilariante!...
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Com o Passinhos de férias na Manta Rota, a GNR montou um perímetro de segurança (como dizia o L.) junto à casa onde estava alojado, embora a rua nunca tenha sido cortada ao trânsito. Dias/noites houve em que os guardas se faziam acompanhar de pastores alemães (imposição da Merkel? ih ih ih...) e também isso serviu de mote para mais uma barrigada de riso. Mesmo em frente à casa do Passinhos encontrámos um cão rafeiro pela trela, e o Z.C., que, além de falar alto, não consegue ser discreto, comentou que o cão era um pastor grego que ladrava “não pago”, “não pago”… Claro que isto contado não tem tanta graça, da mesma forma que há piadas inerentes a um grupo de pessoas e que não funcionam fora desse círculo. Private jokes! No entanto, estou francamente segura quando afirmo que ninguém consegue ficar alheio às chalaças do “nosso guru”…
Passear de descapotável, à noite, ao som de música mirandesa, enquanto mexemos o tronco, abanamos a carola e rimos até às lágrimas, é pouco ortodoxo, foleiro e impróprio da nossa idade? Talvez seja, mas não ofendemos ninguém, e o tempo em que nos sentíamos obrigados a um comportamento “politicamente correcto” já lá vai…
Quando às 9.30h começavam a aparecer os primeiros “zombies” para o pequeno-almoço, já o L., cheio de energia, estava disposto a marchar para a praia, depois de ter pedalado pela serra até S. Brás de Alportel… Nunca teve seguidores, vá-se lá saber porquê…
As minhas devotas orações à Nossa Senhora dos Prazeres e à Nossa Senhora do Ó (…que pena não haver bolas-de-berlim com creme) foram ouvidas e consegui deliciar-me com a bela da bolinha ilícita (é verdade JMC… e não foi preciso deslocar-me a S. Pedro de Moel) que o vendedor apregoava versejando:
“Olha as bolas-de-berlim, as bolinhas naturais, vendem-se mais as de creme, porque são as ilegais…” E foi assim, entre o riso franco e o tempo sem horas, que retemperei a força anímica na companhia de amigos que comigo vivem memórias de outros tempos. Só me faltou pedir uma “Marina”…

P.S. A peregrinação anual a Pozo del Camino, onde nos deliciámos com as papas arrugadas e boi, e a Ayamonte, para a candonga lícita de gel de banho, foi, mais uma vez, um êxito!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Desencontros e encontros

Nunca soube se determinados acontecimentos ocorrem nas nossas vidas por simples casualidade ou se acontecem deliberadamente, se são consequência do acaso ou se estavam predestinados, se há ou não alguma Entidade, seja ela um Deus omnipotente, um Universo em constante transformação, uma Inteligência superior, a Mãe Natureza ou um qualquer Espírito Mágico que rege a nossa existência. Nunca soube e, seriamente, não é coisa que me afecte nem me tire o sono (até hoje, conto pelos dedos de uma única mão as noites em que sofri de insónias), embora sejam várias as divagações que faço desta matéria…
Como não posso dizer que a minha saída do Facebook tenha sido um acontecimento (bem, foi um bocadinho… e continuo radiante!) nem que foi guiada por algum ente, não sei a quem devo agradecer o encontro que tive, uma semana depois.
Procurei com perseverança através do Facebook, e até esgotar os recursos, uma colega e amiga de infância que vivia, nos idos anos 60, a uns escassos 250 metros da minha casa. Fiz todos os esforços que estavam ao meu alcance para a encontrar, mas não fui bem-sucedida. Um dia encontrei a mãe, mas a senhora pareceu-me um pouco taralhouca e acabei por suspender as minhas diligências. Parecia que se tinha ausentado para sempre, levado um descaminho tal que se teria esfumado da face da Terra. Encontrá-la era mais do que uma caturrice, era uma enorme vontade de a abraçar e relembrar o nosso passado partilhado.
Frequento esporadicamente uma pastelaria que fica equidistante das nossas antigas habitações. Não por saudosismo, porque o estabelecimento é muito mais recente do que a nossa antiga camaradagem, mas porque, além de ter um café que me agrada, tem área de fumadores, multibanco e um espaço reservado à venda de jornais e revistas. Foi numa dessas casuais passagens que encarei com a mãe numa cadeira de rodas, visivelmente privada das funções cerebrais, e com a filha, a minha amiga de infância, sentada ao lado dela. Deram-me dois baques!... Um, por ver a senhora num tão avançado estado de decadência, o outro, porque ali estava ela… com mais quarenta e tal anos…mais uns quilos… mas os mesmos traços, a mesma fisionomia da menina de outros tempos…
Reconhecemo-nos, e com um sorriso aberto murmurámos os nossos nomes. Depois, ficámos ali a reviver traquinices e patetices que pertencem a uma outra época, a outras vidas… Insisto em voltar ao passado e, agora, é difícil recordá-la como era, só me vem à ideia como está… Esta coisa da idade é terrível! Às vezes penso que deveria ser proibido reencontrar alguns amigos, colegas e namorados da nossa meninice e adolescência. Só arruinamos as memórias que temos deles… Os magros passam a gordos, a barriga, outrora lisa, predomina num corpo adiposo ou flácido, as cabeleiras fartas e sedosas dão lugar a carecas, as cores atenuam-se numa preponderância de brancos, as barbas e os bigodes seguem o mesmo caminho, os pelos rareiam, mas teimam em não deixar o buço, os “pés de galinha” espreitam sem pudor, os divertidos ficam rabugentos, os simpáticos viram uma seca descomunal, o sonho passa a pesadelo…
Apesar destas minhas divagações, a verdade é que sou uma incurável nostálgica e é sempre compensador tornar a ver gente que fez parte da nossa vida, noutros tempos…
Como eu disse aqui, se for vontade do acaso encontrá-los-ei por aqui ou por aí

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Há 4 anos…

…que mantenho esta Balada com os pezinhos na areia!

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