sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rumo ao Sul

Rumei ao sul no dia 7 de Julho. Neste primeiro período de férias, como já é hábito, arrumei as imbambas e rumei ao sul, tendo como destino a Manta Rota. Rumei ao sul, mas, certamente, viraram o país ao contrário, só encontro essa explicação… No meu primeiro dia de praia a desconfiança foi a palavra de ordem. Assim que avistei o mar, de um azul breu, desconfiei. Aquela cor só tem um significado, azul intenso é igual a frio…A segunda leitura que fiz, foi verificar o número de pessoas que se encontravam no areal versus a quantidade de pessoal que estava dentro de água. Ao olhar o areal cheio de povo e meia dúzia de gatos-pingados na água, desconfiei, sobretudo porque eles tinham apenas água pela cintura e os bracitos no ar como se estivessem a ser vítimas de assaltos com armas de fogo. Enquanto me engordurava com o protector solar, sondei os que se encontravam à beira-mar. Tanto os “criminosos” que apanhavam conquilhas de pequeníssimas dimensões e contaminadas com toxinas, como os que, de mãos atrás das costas, olhavam o mar como se fossem banheiros responsáveis pelos banhistas, passando pelos que, como terapia, davam uma banhoca de água salgada às varizes, eram em número considerável, indício que fez aumentar a minha suspeita.
Com a pulga (do mar) atrás da orelha aproximei-me destemidamente hesitante da água. Os meus pezinhos transmitiram prontamente uma mensagem ao cérebro, mas este já estava paralisado. Em vez de encontrar as águas tépidas típicas do sul, encontrei uma água muito fria. Deus me livre! Nem com receita médica…Tinham mesmo virado o país ao contrário e eu só podia encontrar-me em Moledo…O “Ti Júlio”, o melhor vendedor da Praia da Lota, lá nos foi aquecendo a alma com umas bolinhas de berlim sem creme. Infelizmente, a ASAE proibiu, há algum tempo, a venda das bolinhas com creme, nas praias, e a bela da bolinha, que só me sabe bem na praia, é para ser comida com aquele creme amarelo e guloso. E os pastéis de nata que eu comia na Foz do Arelho? Ai, esta minha mania de voltar ao passado… E as batatas fritas gordurosas e suadinhas depois de algumas horas ao sol e ao calor? Do melhor!
Estou totalmente de acordo com Vasco Pulido Valente quando, depois da interdição, escreveu: “
Não sei como a minha geração, que viveu em permanente perigo de morte, conseguiu chegar à idade adulta. […] Quando, em 1940 ou 50, comecei a ir à praia, comia bolas-de-berlim com a criminosa colaboração da minha família. Aparecia a D. Aida com a sua lata e, em dez minutos, lá iam duas bolas a escorrer de creme, sem qualquer investigação ou autorização do Estado. O Estado, nessa altura, não se interessava pela minha saúde”.
Resta-me acrescentar que a saúde deveria ser uma das bandeiras de qualquer Estado que se proclama como social, mas, como, lamentavelmente, a nossa saúde continua a não interessar ao Estado, vou continuar a comer bolas-de-berlim com creme e a ficar badocha, neste país virado ao contrário…

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Alguém deu pela minha falta?

Não, não estive doente, não fui hospitalizada, não morri, não fui parar à cadeia (nem no Monopólio…), mas fiquei presa num entorpecimento, num marasmo de tal ordem, que não me apetecia mexer nenhum músculo… Mover o dedão do pé dava uma trabalheira, levantar uma pálpebra era uma tortura, os braços pesavam toneladas, a locomoção era penosa, as células nervosas entraram em velocidade de cruzeiro, os pensamentos esvaíam-se entre um arroz de lingueirão e uma imperial, as ideias evaporavam-se entre uma mini e uma anchova escalada…
Sempre que chego ao Algarve fico assim… a preguiça ataca, apodera-se de mim, e tudo o que faço é contrariada e com um grande esforço.
Como eu compreendo os algarvios pelo seu comportamento ocioso e despreocupado…
É o clima temperado, o Verão longo, a areia quente, o vento levante proveniente do deserto do Sara que gera uma ondulação deliciosa e tépida, as praias a perder de vista, o horizonte azul, as dunas douradas, o Barrocal seco, a ria que sensatamente é chamada de formosa…
Como eu compreendo os algarvios pelo seu comportamento ocioso e despreocupado… Diz o meu amigo Z.C. que são influências mouriscas, mais de cinco séculos sob o domínio árabe…