sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Gata Borralheira

Quando era menina e ouvia a história da Cinderela, aliás, da Gata Borralheira, nunca descortinei a verdadeira sorte da protagonista do conto.
Nessa época, o mais importante era o facto de ela conseguir livrar-se da maldade da madrasta e das filhas desta e, evidentemente, casar com o príncipe…
Hoje em dia, a versão que sempre conheci da história, um misto de Perrault e Disney, já não me perturba pela malvadez nem me regozija pelo final feliz. Na realidade, hoje em dia, este conto infantil revela-me as passagens realmente marcantes e qual a personagem mais relevante.
Presentemente, os factos mais tirânicos são aqueles em que a desditosa Gata tem que cozinhar, lavar a roupa, costurar, esfregar o chão ou ir buscar água ao poço…e, à noite, depois de um dia extenuante de trabalho não ter uma cama decente para descansar, vendo-se obrigada a dormir junto ao borralho…
No que diz respeito às personagens, eu diria que a Fada madrinha é indispensável.

Muito triste, Cinderela ficou à janela, olhando para o castelo na colina. Chorou, chorou e rezou. Das suas orações e lágrimas, surgiu a sua Fada madrinha que a confortou e usou a sua varinha de condão para criar um lindo vestido e sapatos de cristal, fazendo também surgir uma linda carruagem…

Caso estivesse na pele da Cinderela, dispensaria mais depressa o príncipe do que a Fada madrinha. Primeiro, porque sem o seu auxílio nunca teria conhecido l'homme de sa vie (não confundir com homem ideal) e por conseguinte deixar de ser empregada doméstica… Em segundo lugar, porque a partir de uma abóbora faz aparecer uma linda carruagem, um meio de transporte tipo o táxi dos nossos dias, sem ter que recorrer aos transportes públicos… Por fim, e com isto fico completamente exasperada, a preciosa ajuda da Fada madrinha, poupa-a nas enfadonhas compras de roupas e sapatos, evitando também despesas desnecessárias…
Eu também quero uma Fada madrinha!

Coisas do arco-da-velha... (4)

Este é um pequeno episódio burlesco, contado em discurso directo, que, embora já tenha uns anos, continua a fazer-me rir quando penso ou falo dele.
Passou-se com o irmão da minha colega J., quando ele trabalhava na Tuper (uma empresa de animação turística e desporto aventura) e se deslocou a uma firma para reunir com um dos responsáveis desta.

Luís Lucas – Boa tarde, venho para uma reunião com o Sr. X
Recepcionista – Boa tarde, quem devo anunciar?
Luís Lucas – Luís Lucas da Tuper
Recepcionista (já ao telefone) – Está aqui o Sr. Luís Tuka da Puka para a reunião…

Esta dislexia verbal da recepcionista levou a que os irmãos passassem a ser conhecidos por Tuka da Puka…

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Memórias e Afectos (44)

Tinha a minha filha A. uns cinco anos quando me fez desenhar, à vista, a lagarta da Alice no País das Maravilhas, enquanto ela optou por desenhar o gato de Cheshire.


Julgo que a minha filha A. tinha uma visão criativa tão fantástica como o Tim Burton...
Com esta criação, um pouco estranha, do famoso gato de Cheshire poderia mesmo ter tido uma carreira brilhante em storyboard e na técnica de animação stop motion.
Fico à espera do parecer da R...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

125 anos de criatividade

Ainda não tive oportunidade de passear por este jardim mágico...
Talvez o faça lá mais para a Primavera.
Enquanto isso não acontece, deleito-me
aqui.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Vazio

Faz hoje um mês.
Faz hoje um mês que te perdi. Que saudades…
As imagens do último dia e das poucas palavras que trocámos continuam muito presentes, sempre a voltarem-me à cabeça e a corroerem-me a alma…
Quem me dera poder trazer-te de volta para que o final, mesmo não sendo diferente, pudesse ser menos penoso. Nunca saberei o que pensavas sobre o lar, nunca saberei se definhaste de tristeza e desgosto. Continuo atormentada pela culpa.
Sinto falta da tua presença, do teu olhar, das tuas mãos, da tua voz, até da tua surdez…
Daria tudo para poder segurar, novamente, a tua mão e ter oportunidade de dizer que te amo muito. A dor até pode diminuir mas a saudade aumenta…
Apesar de a minha vida decorrer da forma habitual, a verdade é que tudo mudou. Eu já não sou a mesma pessoa que era, falta-me uma parta da minha identidade, as raízes, outrora profundas, são agora mais frágeis e mais superficiais…

Memórias e Afectos (43)

Livros da minha adolescência - 2

Mais alguns dos livros que guardo com carinho.

Mais uns que, um dia, farão companhia a umas caixas de cartão...


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A minha onda (14)

Nina Simone

Inquietações

Eu, que tenho em mim todos os sonhos do mundo… sinto que a vida me escapa por entre as mãos…


E Hans compreendeu que, como todas as vidas, a sua vida não seria mais a sua própria vida, a que nele estava impaciente e latente, mas um misto de encontro e desencontro, de desejo cumprido e desejo fracassado, embora, em rigor, tudo fosse possível. E compreendeu que as suas grandes vitórias seriam as que não tinha desejado e que, por isso, nem sequer seriam vitórias.

De súbito, Hans não reconhecia o tempo. Como alguém que distraído deixa passar a hora em que devia comparecer em determinado jardim e se espanta que seja já tão tarde, assim agora ele se espantava como se não tivesse à passagem reconhecido os dias e, por descuido, tivesse deixado passar os anos sem comparecer à sua própria vida. E não sabia bem como tanto se atrasara, encalhado em hábitos, afazeres e demoras…

Sophia de Mello Breyner Andresen
Saga - Histórias da Terra e do Mar

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Altamente...irresistível!

Melhor Filme de Animação e Melhor Banda Sonora

Globos de Ouro 2010

Fazer pela vida...

domingo, 17 de janeiro de 2010

Amizade vista ao Raio X...

“Há pessoas de entram na nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem”

Foi por um feliz acaso que a M. entrou na minha vida, ela e a família…que passei a considerar como minha. Hoje em dia é difícil encontrar pessoas verdadeiras, mas esta é uma família de pessoas genuínas, que se entregam sem pedir nada em troca, que compreendem o valor da amizade e sei que estarão sempre, incondicionalmente, do meu lado.
Felizmente, no meu caminho, vão aparecendo pessoas singulares como estas, pessoas que merecem elogios, que merecem amor, que merecem carinho, enfim, que merecem ser muito felizes porque só pelo simples facto de existirem dão mais sentido à minha vida, ao mesmo tempo que dão tranquilidade e mais cor ao mundo…
M, estarei inteiramente do teu lado, compartilhando os teus momentos de alegria e melancolia. É comum dizer-se que tudo muda… mas os afectos ficam para sempre assim como os amigos, porque a verdadeira amizade é um sentimento que permanece para lá da distância e do tempo…

Porque é dia do teu aniversário, deixo aqui o refrão de uma canção que fala de amigos e de amizade. Obrigatório ouvir!… E cantar…

Keep smiling keep shining
Knowing you can always count on me for sure
That's what friends are for
For good times and bad times
I'll be on your side forever more
That's what friends are for

(That's What Friends Are For - Dionne Warwick)

Design

Também quero!...



sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Memórias e Afectos (42)

Quem não se recorda do polícia sinaleiro, conhecido por "cabeça de giz"?

Lembro-me muito bem deles…em cima das peanhas.
Uma vez, quando regressávamos de Caldas da Rainha, o meu pai foi mandado parar, junto a um antigo cruzamento que existia junto aos bombeiros da Encarnação.
Estava em primeira fila e quando o sinaleiro o mandou avançar…Oops! Ficou com o pedal da embraiagem preso… já não saiu dali… e o polícia, com um ar consternado, dizia “se eu soubesse não o tinha mandado parar…”

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Hotel ideal para cada signo do zodíaco…

… e admito que o “meu” tem a “a minha cara”…

O signo Peixes, sensível e sonhador, precisa de um local que não lhe restrinja o horizonte e um “hotel familiar” na Tailândia é o destino ideal. Cercado de águas cristalinas e infindáveis praias de areia branca, permitirá ao Peixes cortar com o stress e as rotinas do mundo.

Inquieto e enérgico, o Carneiro precisa de novidade e acção. Assim, para o Carneiro, o Hotels.com sugere um hotel de cinco estrelas no Egipto, com acesso a desportos aquáticos, jogos de bola como o ténis e aulas de aeróbica e yoga, porque, sustenta a organização, os nativos de Carneiro se sentirão “mais confortáveis num hotel de desporto”.

Para aqueles cujo signo é
Touro é sugerida uma estadia romântica em Capri, na Itália, num hotel 300 metros acima do mar, com vista panorâmica “de cortar a respiração” sobre a ilha, porque "os nativos de Touro precisam de muito romance e tempo para relaxar". Para o Touro dar largas ao seu romantismo, quem sabe num jantar no terraço a saborear um copo de Chianti.

A Tunísia é o destino sugerido para os comunicativos
Gémeos, que “apreciam a sociedade e adoram lidar com outras pessoas”. No hotel sugerido, em Djerba, o Hotels.com promete alternativas de lazer como dançar no clube nocturno do hotel ou jogar bilhar e sociabilizar com os outros hóspedes.

Para os
Caranguejo é sugerido um programa de paz, num hotel algarvio com apenas 15 quartos, porque este signo se sente “particularmente bem em ambientes calmos e reservados”. Um passeio pelos laranjais ou uma sauna ao final do dia garantem-lhe a familiaridade e segurança que aprecia, mesmo fora de casa.

Aos
Leões, porque “adoram o luxo e estar no meio dele”, o Hotels.com sugere um resort no Dubai. O luxo e a atmosfera exclusiva, os passeios pela paisagem exótica, uma visita aos reprodutores de falcões, um curso de arco e flecha vão fazer-lhe o coração bater como gosta: depressa.

Para o signo
Virgem o site sugere “um relaxamento holístico”, em Tóquio, no Japão. Organizado e exigente precisa de estruturas claras que o tranquilizem. O hotel, com fachada futurista, localizado no centro da metrópole é o lugar que lhe convém. Aqui, sentir-se-á rei no seu reino, rodeado de simplicidade, estilo e com a certeza de ter tudo ao alcance da mão.

Aos nativos de
Balança sugere-se “descanso e relaxamento” já que valorizam o equilíbrio entre o corpo e a alma. Um hotel SPA, nas Maldivas, é definitivamente a escolha correcta. Pode dedicar-se às coisas boas da vida e mimar-se com uma massagem num dos vários centros de 1.ª classe.

Segundo o Hotels.com, os nativos de
Escorpião “são mais individualistas e ciosos de desafios”, pelo que o alojamento em Maputo, Moçambique, será o ponto de partida para um safari, rafting ou experiências múltiplas no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, entre girafas, gazelas e gnus.

Ao Sagitário, aventureiro e com grande vontade de liberdade, sugere-se uma estadia perto do Parque Nacional Grand Canyon, no Arizona, Estados Unidos, com visitas guiadas em voos privados de helicóptero sobre os gigantes Canyons e outros ícones históricos.

Para o
Capricórnio, que não gosta de obstáculos e aspira a não ter limites, um hotel na Suíça a 100 metros da montanha dos Alpes e a 200 metros da margem do Lago Lugano, é o cenário exacto. Ali pode respirar ar fresco e encher-se da mesma grandeza com que se identifica.

Os nativos de
Aquário, diz o site, possuem uma imaginação fulgurante e são magicamente atraídos pelas coisas bizarras e extraordinárias. A sugestão, por isso, é um hotel de design em Madrid, iluminado por uma fachada fantástica e quartos que são quase uma obra de arte e um estímulo à criatividade do Aquário.

(Diário de Notícias e Destak)

Message in a bottle (24)

O governo da cidade de Guangzhou, no Sul da China, vai estabelecer leis mais duras e severas para combater os comportamentos anti-sociais, como por exemplo cuspir e urinar em público, deitar lixo para o chão e estacionar mal o carro, noticia o site da BBC.
A ideia é criar uma espécie de tabela de pontuação de ofensas, que pode levar as pessoas a perderem a sua residência. Atingido o limite de 20 pontos em dois anos, o cidadão será despejado, caso a sua habitação tenha sido oferecida pela autarquia.
O objectivo do governo local é «construir um ambiente comunitário higiénico, seguro e harmonioso» para os seus cidadãos, acrescenta o site da BBC. Recorde-se que a cidade chinesa de Guangzhou será a sede dos Jogos Asiáticos, em Novembro deste ano.
(Destak)

Não sei se compreendi bem esta deliberação…
Então, só as pessoas que têm casas atribuídas pela autarquia é que vão ser punidas!? Ok, devem ser “paletes”… porque até existe um departamento que administra as casas do governo. Em todo o caso parece-me injusto e alguns chineses já criticaram o plano, em fóruns realizados na internet, afirmando que ele representa “discriminação contra os pobres”.
Nós por cá… não tínhamos mãos a medir, era preciso paciência de chinês! Sim, porque carros mal estacionados são às resmas…e português que se preze não dispensa cuspidelas no chão…
Autarquias portuguesas… apliquem a ideia!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Memórias e Afectos (41)

Livros da minha adolescência - 1

Guardo, com bastante apego e ternura, livros da minha adolescência.
Livros que, um dia, irão directamente para o ecoponto azul, sem passarem pela “partida”…
Os livros têm a sua época e o seu tempo e, na realidade, as minhas escolhas literárias, na juventude, estão completamente ultrapassadas e antiquadas… pura e simplesmente já não encaixam na mentalidade dos jovens leitores de hoje.

Os meus livritos, guardados devotamente, estão tão desajustados na actualidade como muitos dos livros que, religiosamente, o meu pai foi armazenando e que descansam, há anos, nas estantes do escritório...

domingo, 10 de janeiro de 2010

Memórias e Afectos (40)

Já lá vão mais de trinta anos...
Em Lagos, mês de Agosto.
Numa época em que éramos teenagers "inconcientes" e despreocupados.

À noite, no Vagabundo.
Depois de uns copos de sangria... ó F., bebes uma Marina a meias?
Lembras-te Z.C? Nessa altura, a malta tratava-te por B.
E depois de várias Marinas a meias, apanhámos uma piela do caraças...
Loucuras da idade!...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Fujam!!!...

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.”

Não sou nova nem sou velha, mas já vivi, certamente, mais de metade da minha vida. Será esta uma das principais razões que me levam a já não ter estaleca para emigrar, mas ai… se eu fosse nova… pisgava-me daqui para fora!
Censuro-me por não ter tido o discernimento necessário, há uns anos atrás, para me ter pirado daqui para fora, mas também não houve uma única alminha que me tenha incentivado a ir-me embora. Agora, para mim, é tarde… mas as minhas filhas, assim como outros jovens, têm oportunidade de basar daqui e quanto mais depressa melhor... caso contrário, irão transformar-se em adultos inconformados (como eu…) e, mais tarde, em velhinhos amargos, tristes ou resignados…
Fujam daqui para fora!...
A velhice, no nosso país, é uma “doença” que causa preocupação, a velhice no nosso país é uma merda… (salvo algumas excepções, claro está). A grande maioria dos idosos vive (?) entregue a si própria e em condições económicas precárias, outros, apesar de financeiramente menos limitados, não vivem desafogadamente. Muitos carecem de cuidados e apoio, por vezes permanentes, e as soluções encontradas, para além de nem sempre serem as melhores, não são, muitas vezes, viáveis, devido a vários factores. Tive ocasião de viver, recentemente, uma experiência com um final trágico. A doença do meu pai, agravada pela idade já avançada, levou-nos a enfrentar muitos problemas: o sistema de saúde deficiente, a rede de cuidados continuados foi sempre uma miragem inalcançável, o apoio domiciliário que conseguimos, para o manter em casa, pecou por ser insuficiente, a santa casa da misericórdia revelou-se e de “santa” tem muito pouco e acabámos encalhados na burocracia da segurança social. Restou-nos (porque o desgaste para a minha mãe era enorme) procurar um lar de idosos que recebesse acamados e aqui, mais uma vez, tropeçámos em algumas dificuldades, sendo a principal, o montante pedido em todos eles versus o valor mensal da reforma do meu pai. Existe muita oferta, mas a verdade é que a maioria deles é incomportável, tendo em conta as pensões que os nossos idosos auferem. Escolhemos o lar, que julgámos ser o melhor, dentro das possibilidades, e pagámos dez dias do mês de Dezembro de 2009 e o mês de Janeiro de 2010, ou seja, mil e trezentos euros. Infelizmente, o meu pai faleceu ao fim de três dias no lar… Fomos informados que nos iriam restituir grande parte do dinheiro entregue, mas agora dizem que só podem restituir quinhentos euros… Oitocentos euros por três dias??... Qual é a justificação? Este tipo de pessoas causa-me asco. Neste país, até os velhinhos servem de motivo para a ladroagem que por aqui alastra. Ponham a mão na consciência… Cada vez mais, este país funciona como um reles vão de escada…atulhado de aldrabões, oportunistas, gatunos e parasitas…
Fujam daqui para fora!...
Os portugueses são, e continuam a ser, um povo emigrante. Porquê? Porque o nosso país é um grande problema de gestão, imperfeito e defeituoso. No entanto, a tendência para ir embora é suplantada pela vontade de regressar a Portugal. Como diz Gonçalo Cadilhe, imaginam um português a mudar de país, dentro da UE, duas ou três vezes na vida?... Uns anitos na Escócia, uma década na Polónia, a reforma na Grécia? E a casa dos avós? E o adro da infância? E o jazigo de família?
Esqueçam essa carga emotiva das raízes! Ponham-se a andar daqui para fora!...
O que Portugal tem de bom é…é…ah, sim, é o clima (que não é exclusivamente nosso), e o “resto é paisagem” (linda mas muito mal frequentada…) e, somente agora, que a genica já vai começando a faltar, compreendo, que isso, por si só, não compensa…
Sempre me julguei incapaz de viver sem Sol, num país cinzento e frio. Actualmente estaria disposta a trocar um pouco desse Sol por melhor qualidade de vida e uma assistência digna na velhice, coisa que aqui não terei nunca…
As minhas filhas sabem o que devem fazer. Devem ir-se embora e quanto antes, melhor!
Fujam! Depois não digam que eu não as avisei…
Fujam! Caso contrário, irão transformar-se em adultos inconformados (como eu…) e, mais tarde, em velhinhos amargos, tristes ou resignados…
Fujam! Os velhotes que paguem a crise…

Reproduzo aqui passagens de uma publicação, caseira (Histórias da Dinamarca), escrita, magistralmente, por Filipe Carvalhão, ex-maestro do grupo coral Ad Divitias, que foi, “de armas e bagagens”, assentar na Dinamarca, um daqueles países que nunca, antes, me seduziria. E digo bem, antes… só que entre o antes e o depois, houve o durante…
Leiam! Eu mordi-me de inveja!

As praias aqui são boas, mas não tão grandes e de areia tão boa como as portuguesas. Há alguns aspectos que me agradam bastante; a maioria dos dinamarqueses vai para a praia por volta das 7 da tarde, que é também a hora que prefiro, mas mesmo assim nunca há muita gente; não há problemas de estacionamento, não há barracas de bifanas e a construção nas zonas de praia é ordenada e muito bem arranjada. A envolvente é bonita e agradável.

Todos os dias são andados 1,2 milhões de quilómetros de bicicleta em Copenhaga. É o equivalente a dar 30 voltas à Terra! Um valor impressionante, repetido todos os dias. É que 37% da população da grande Copenhaga prefere a bicicleta como meio de transporte para o trabalho, para a escola ou a caminho do lazer. Mas ainda não chega. Políticos e instituições procuram elevar esse valor para 50% e começam por dar o exemplo; o presidente da câmara de Copenhaga e o equivalente ao ministro do ambiente de cá, vão diariamente de bicicleta, de suas casas para o emprego e volta. Constantemente estão a melhorar as condições para utilizar a bicicleta dentro e nos acessos à cidade. Apesar dos já existentes 350 km de vias próprias para bicicletas na cidade, estão a ser construídos mais e a ser melhorados os já existentes. Por exemplo, foram recentemente criadas as “vias verdes” para bicicletas. Trata-se de um tipo especial de pistas, devidamente assinaladas, que atravessam as principais zonas de acesso ao centro da cidade e ao longo das quais os semáforos estão sincronizados em favor das bicicletas, isto é, se se percorrer uma dessas pistas a uma velocidade constante de 20 km/h, é possível atravessar a cidade de um lado ao outro sem nunca pôr um pé no chão!

Chegou o Outono. As árvores ficaram amarelas, vermelhas e castanhas, em cores vivas, recortadas com detalhe contra um céu azul tão claro e limpo. “É o tempo das grandes caminhadas a pé” dizia-me o Kristian, tenor de um dos coros com que trabalho. E assim é, o tempo convida a sair e as cores convidam a olhar. Apetece absorver cada detalhe desta Natureza efémera, enquanto dura, deste lado frio, ainda púbere, do ano que em breve começará a envelhecer!

Mas não temos perdido tempo. Aproveitamos bem. Mudámo-nos no dia 1 de Outubro para outro apartamento. Fazia parte do nosso plano esta mudança; primeiro três meses num apartamento mais pequeno, todo equipado e perto do centro da cidade, enquanto procurávamos um maior, vazio (para poder receber as nossas coisas que chegariam entretanto de Portugal), e num local que fosse agradável, sereno, com boas escolas e infantários nas imediações, bons transportes e abastecimento e, já agora, bonito. Acabámos por encontrar uma zona que reunia estas condições e alugámos um apartamento que, até ver, nos está a agradar bastante. Estamos agora a viver em Charlottenlund (não longe de onde estávamos antes), rodeados de bosques e parques formidáveis, a 2 minutos a pé da estação de comboios (15 minutos de comboio até ao centro de Copenhaga ou 40 minutos de bicicleta), a 5 minutos de bicicleta do mar e a 5 minutos a pé de um bosque, para um lado e uns 10 minutos de um enorme parque, para o outro. Todas as fotografias deste número das Histórias da Dinamarca foram tiradas num dos muitos passeios que temos dado, neste caso ao tal bosque que fica aqui tão perto de casa. Temos lá ido penso que dia sim, dia não. Outro dia fui lá com a Madalena depois de jantar. Já era de noite e eu propus ir descobrir ”minimeus”. Mal entrámos no bosque, viam-se ainda as luzes da rua, disse-me ela - Pai, eu não estou a gostar nada disto! Achas que ainda sabes o caminho para casa? Quinze minutos depois já estava na caminha dela, quentinha a fazer ó-ó e, quem sabe, a encontrar os “minimeus” que nunca chegámos a descobrir naquele bosque fantástico!
Posso dizer que o tempo que temos encontrado é muito mais agradável do que esperávamos, mas não me deixa particularmente descansado observar como os Dinamarqueses parecem tentar agarrar, aproveitar, quase aforrar, cada instante de tempo bom, como se estivesse para se acabar… será?

Quando no primeiro dia de aulas se viu numa sala onde não compreendia uma palavra do que lhe era dito pela professora ou pelos colegas, a Leonor desatou a chorar. Por dentro nós também chorámos! Mas, em conjunto com a professora, tudo se resolveu rapidamente e no final da primeira manhã a Leonor estava satisfeita e orgulhosa com a sua nova experiência.
Desde o princípio a nossa despesa com a actividade escolar da Leonor foi zero, nada, nem um øre! Livros, material escolar e até um serviço de táxi que leva e trás a Leonor todos os dias (sim, um táxi só para ela que a vem buscar e trazer à porta de casa), tudo nos têm disponibilizado sem sequer o pedirmos. Os livros e material escolar são habitualmente fornecidos. O táxi é disponibilizado porque a Leonor tem estado a frequentar uma turma de alunos estrangeiros, que só existe em escolas que ficam um pouco mais longe de nossa casa do que aquilo que está previsto. A partir da próxima semana a Leonor vai passar a frequentar uma turma normal, com alunos dinamarqueses, na Ordrup Skole, a escola mais próxima de nossa casa. Irá e virá de bicicleta (que já domina) na companhia de um de nós. São pouco mais de 5 minutos para cada lado e será a última das mudanças, pelo menos por dois anos! Os episódios relacionados com a entrada da Leonor na escola, mostram bem a sua capacidade de adaptação e são também ilustrativos da seriedade com que os direitos dos cidadãos e a sua aplicação à actividade escolar, são tratados aqui. A integração da Madalena no infantário foi tão simples e imediata como a da Leonor na escola, mas o mesmo não pode dizer-se da facilidade em encontrar vaga! A escola da Leonor começou a 13 de Agosto, mas a Madalena só pôde começar a frequentar o infantário no dia 1 de Outubro. Não foi fácil nem para ela nem para nós, este desfasamento. A explicação para a demora tem a ver com o sistema de atribuição de vagas nos infantários. Uma vez mais o processo é elucidativo da forma sistemática como aqui tudo funciona. Os infantários são privados, mas a gestão do seu funcionamento obedece a regras definidas pela kommune (semelhante ao município em Portugal, mas com atributos muito mais vastos). A kommune define o número de vagas, o tipo de serviço prestado e estabelece um preço único em todos os infantários. Portanto, na prática, o aspecto mais importante a ter em conta é a localização, já que o serviço nunca é muito diferente. Ora a kommune garante lugar a todas as crianças, no máximo 2 meses após a sua entrada numa lista de espera para vagas. Portanto, habitualmente, os pais das crianças inscrevem-nas dois meses antes de terminar a licença de maternidade e tudo corre naturalmente. Ah, e à semelhança do táxi da Leonor, também neste caso há uma solução para minorar os problemas que possam surgir. Caso a kommune não possa oferecer uma vaga dentro do período previsto, paga um ordenado a um dos pais para que este fique em casa com a criança até que haja vaga num dos infantários das imediações.

É estranho e causa-me sempre alguma apreensão, constatar que já não penso tanto em Portugal! Quando aqui cheguei era inevitável, a qualquer momento dava comigo a comparar o que via de novo com o que conhecia de Portugal. Parecia-me que estava sempre latente um pensamento sobre Portugal. Como iria ser a nossa vida aqui, em comparação com a de Portugal, e o trabalho, como se iria desenvolver? E as pessoas que deixei em Portugal, como estariam? E a relação com as pessoas que aqui encontraria? Seria verdade que os Dinamarqueses são frios e antipáticos, em comparação com os Portugueses? E a nossa casa, seria maior, menor, melhor ou pior que aquela em que vivíamos? Nas lojas não conseguia deixar de converter para Euros os preços em Coroas, antes de me decidir ou não pela compra. Na rua pensava no clima daqui e no de Portugal, no aspecto das ruas de Copenhaga e no das de Lisboa – “Em Portugal ainda está tudo a jantar!” dizíamos uns para os outros quando estávamos a deitar-nos. De vez em quando apetecia-me ouvir as crónicas do Fernando Alves na TSF, pela internet. E ouvia!
Mas a pouco e pouco vou sendo sobressaltado pela ideia de que durante períodos cada vez mais longos do dia, não penso em Portugal. Encontro pessoas novas, vejo lugares diferentes, vou trabalhar, vou às compras, volto para casa e Portugal já não é a medida. Não, não é um sentimento confortável. É até um pouco assustador sentir como esta mescla de tempo e distância são impiedosos para com a memória mais fresca. Gostava de ter tudo aquilo que aqui me agrada, sempre bem presente, mas de somar a isso também as boas memórias que trago comigo de Portugal. Senti-las ainda à flor da pele, como quando aqui cheguei. Mas isso não é possível. Afinal a memória é apenas um perfume!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Aconteceu...

... no Presépio, na praça central de Criciúma (Brasil)


Alguém dizia "espero que a manjedoura tenha ficado para ele". Eu prefiro pensar que alguma alma generosa o tirou da solidão do abandono...
"Não importa se os animais são incapazes ou não de pensar. O que importa é que eles são capazes de sofrer"

O meu respeitável gato

Fazendo hoje três anos que o T. entrou na minha família, quero homenageá-lo e agradecer-lhe por todos os momentos felizes que nos tem proporcionado, pois não há animal doméstico que se compare ao gato. O gato, que me desculpem os donos dos outros animais, é o animal com mais carácter e personalidade que eu conheço, o gato não responde a um chamamento com um abanar de cauda frenético, só dá turras e ronrona quando acha que o dono merece e, quando se deita no nosso colo, não o faz porque nós queremos, mas sim porque quer mimos ou quando tem frio.
O T. chegou a nossa casa precisamente no dia de Reis e chamo-lhe, com alguma frequência, Rei Gordo (Godo…). À minha gata chamo princesinha louca por causa das suas diabruras hilariantes e deliciosas. Mas hoje a homenagem é para o meu gato, o Senhor T.
O T. tem inúmeras alcunhas, todas carinhosas, como, por exemplo, safardana, miudosco, badigas e gatatui (devido ao seu apetite insaciável e ao seu gosto pela cozinha…) e tenho por hábito perguntar-lhe (como se ele me respondesse…) quem é o gato mais lindo e mais fofo da linha de Sintra?...
Confesso que, até ao dia de Reis de 2007, não tinha nenhuma simpatia especial por gatos, mas depois do Senhor T. entrar na minha vida, passei a ser uma amante incondicional de gatos… Porquê? Talvez porque os gatos têm uma capacidade natural para manipular os donos e o T. percebeu que, naquela casa, era somente necessário conquistar a pessoa que menos afinidade sentia por ele, ou seja, eu… e com toda a sua “sabedoria”, não é que me “domesticou” completamente?
Só quem tem, ou já teve, gatos, pode compreender a paixão por estes felinos. Há lá coisa mais terna que o doce ronronar de um gato…

Para além desta foto, reproduzo, aqui, uma passagem de uma crónica do MEC (que li no Cavacos das Caldas) no jornal Público.

"...O que espanta num gato é a maneira como combina a neurose, a desconfiança e o medo - para não falar numa ausência total de sentido de humor - com o talento para procurar e apreciar o conforto e, sobretudo, a capacidade para dormir 20 em cada 24 horas, sem a ajuda de benzodiazepinas. O gato é neurótico, mas brinca. Brinca com seriedade, mas brinca. Tem acessos, muito curtos, de loucura, em que se embandeira em saltinhos oblíquos. Mas, acima de tudo, descobriu o sistema binário da existência. Que é: dormir faz fome. Comer faz sono. Acordo porque tenho fome. Adormeço porque comi. Nos intervalos, faço as necessidades. Podem ser secundárias (cagar, amar, mijar, brincar, ansiar), mas são verdadeiramente necessárias. Se não tem sono, é porque tem fome. Se não tem fome, é porque tem sono. Se não tem uma coisa ou outra, é porque tem de fazer as necessidades.
É ou não uma lição de vida? Sim; é. "

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Livros e Mar: eis o meu elemento! (18)

Estou a gostar muito e já comecei a ler o volume II. Sem dúvida que recomendo a quem goste do género e da época. Diz o autor, no prefácio, que começou a escrever o livro, acabou por o pôr de lado e passaram-se dez anos até voltar a olhar para ele.
Ainda bem que o retomou senão teríamos perdido uma excelente obra literária.
Ken Follett, conhecido como escritor de livros policiais, diz ainda que muitas pessoas ficaram surpreendidas com Os Pilares da Terra, incluindo ele próprio.
A mim também me surpreendeu e, principalmente, fascinam-me as personagens, que se movem como "peças" de um jogo de xadrez, e os acontecimentos que marcaram aquela época.

Na Inglaterra do século XII, Tom, um humilde pedreiro e mestre-de-obras, tem um sonho majestoso – construir uma imponente catedral, dotada de uma beleza sublime, digna de tocar os céus. E é na persecução desse sonho que com ele e a sua família vamos encontrando um colorido mosaico de personagens que se cruzam ao longo de gerações e cujos destinos se entrelaçam de formas misteriosas e surpreendentes, capazes de alterar o curso da história. Recheado de suspense, corrupção, ambição e romance, Os Pilares da Terra é decididamente a obra-prima de um autor que já vendeu 90 milhões de livros em todo o mundo.

domingo, 3 de janeiro de 2010

O resto é silêncio...

É a lei natural da vida, os pais “partirem” antes dos filhos.
É a lei da vida, é natural que assim seja, mas pai é pai e a dor, ao perdê-lo, é inimaginável…
Entrei o ano muito mais “pobre”…
Quero, e tento, agarrar-me à ideia de que existe vida para além da morte, mas uma coisa é o que me dita o coração e outra, muito diferente, é o que me diz a razão.
Consolo-me com recordações… Uma delas foi lembrada pelo meu primo ZZ, ainda na noite de 24 de Dezembro, e que nos fez sorrir a todos.
Dizia ele que o tio Fernando foi a única pessoa que o levou à pastelaria “As Velhas”, nas Caldas da Rainha, e, sabendo como ele era guloso, lhe disse para comer todos os bolos que quisesse… O ZZ não se fez rogado e começou a “enfardar” bolos. Ao fim do décimo terceiro, sim, 13º bolo, um pastel de nata ainda morninho, começou com cólicas e, recorda ele, lá foi muito aflito com medo de não chegar a tempo a casa…
Este pequeno episódio foi recordado pelo meu primo porque o meu pai sempre gostou muito dos sobrinhos e eles sabem disso. Gostava tanto dos sobrinhos que, já bastante doente e na fase final da sua vida, continuava a perguntar por eles e pelas respectivas famílias. Sei, também, que os meus primos sempre tiveram um carinho especial pelo tio Fernando.
Consolo-me com recordações…com recordações felizes e menos felizes, boas e menos boas, ternas e menos ternas, às quais me prendo, no meio da minha mágoa.
Recordar é viver, o resto é silêncio…

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010