segunda-feira, 30 de novembro de 2009

24 Horas na Vida de Uma Mulher

O título deste “post” nada tem a ver com o livro de Stefan Zweig.
As 24 Horas a que me refiro são as de sábado, dia 28 de Novembro.
Das “lides” (autênticas touradas) caseiras à assistência aos meus pais, passando por uma ida ao cabeleireiro com a R e uma deslocação ao mais recente centro comercial Dolce Vita Tejo, tudo me pareceu depressivo e corriqueiro. Julgo mesmo que os “passeios” a centros comerciais aos fins-de-semana são muito, mas muito mais deprimentes do que aquelas voltinhas dos tristes ao Guincho pela marginal, que eram “fatais como o destino”, quando eu era adolescente e ainda saía com os meus pais ao domingo… Admito até que as voltinhas dos tristes sempre tinham algum encanto.
24 Horas! 24 noves fora 6! E foram precisamente seis as horas que se “salvaram” deste dia. As seis horas em que estive com quase todos os meus amigos…
As conversas, as piadas que são só nossas, os risos, a cumplicidade… O altruísmo da T, o humor requintado do B, o inconfundível L, a descontracção da C, a autenticidade do Z, as particularidades da S, as conversas disparatadas do M, a espontaneidade do S, fizeram com que o meu sábado valesse a pena…
Durante uns breves segundos, e sem que eu me recorde como o assunto veio à baila, a conversa girou à volta de pés de mesas… Verdade! A minha filha A chegou a dizer, na brincadeira, que nos assemelhávamos a um grupo de velhotes gagás, num lar, a falar de banalidades…
No entanto, quando voltámos a casa e manifestei a satisfação pelos bons momentos passados naquela noite, ela fez uma confissão que eu achei deliciosa. Disse-me que, sempre que regressávamos de uma daquelas reuniões com os meus amigos, ficava bué nostálgica (sic) porque para além de ser bonito ver-nos juntos, hoje em dia é difícil existirem amigos assim, tão genuínos…

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Memórias e Afectos (38)

Algumas das revistas musicais preferidas pela juventude de hoje.

Não me recordo de haver tanta variedade no início da década de setenta.
Lembro com saudade a Salut les Copains, uma revista musical francesa muito em voga na época.
Comprava-a com alguma frequência…
Muitos dos posters que "forravam" as paredes do meu quarto saíam desta revista.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O que (agora) me satisfazia completamente…(8)

Que pena não ter um Ambrósio que leia sempre os meus pensamentos...


sábado, 21 de novembro de 2009

Comparar o incomparável

Ontem, logo pela manhã, presenciei um inesperado arrufo de namorados, os dois já na casa dos vinte, seguramente.
Vinha eu a ruminar (os Touros são assim, moem e remoem…) os meus problemas quando uma rapariga me ultrapassa, num passo rápido e determinado. Eis se não quando sou novamente ultrapassada, em passo de corrida, por um rapaz que ia no encalço da pequena. Chegou-se a ela e, pondo-lhe um braço por cima dos ombros, começou a bombardeá-la com mil pedidos de desculpa. Ela, sempre naquele passo decidido, nem para ele olhava e o rapazito continuava a desculpar-se dizendo que ela tinha interpretado mal as suas palavras.
Eu continuava atrás deles, concentrando a minha atenção na cena que se desenrolava à minha frente. Eles nem davam pela minha presença ou se davam estavam completamente a marimbar-se para mim. Acho que lhes assentou bem essa atitude porque quando se está apaixonado, o resto do mundo não conta…
A certa altura, ela estacou de repente, sacudiu o braço que ele tinha sobre os seus ombros e olhando para ele disse: “eu não admito que tu me compares com a Joana, já sabes que eu odeio essas coisas!”
Oops! Estava tudo estragado! O que ele foi dizer…Pfft!
Então isso diz-se à miúda, ó meu palhaço!? Ele até podia pensá-lo, mas verbalizar um pensamento deste calibre é de quem não tem muitos miolos…
Compará-la com outra pessoa? Tss…tss…tss… Eu nem faço a mais pequenina ideia de como possa ser essa tal Joana, mas quando se faz uma afirmação destas, temos que ter uma noção exacta do que estamos a dizer e a comparar. Regra geral, uma das pessoas comparadas sai a perder, é depreciada em favor da outra. Decerto que a comparação que ele fez com a Joana não terá sido física, mas não deixa de ser deselegante.
Confesso que também afino quando me comparam com alguém.
Posso comparar-me com uma outra mulher, independentemente da altura, do peso e da beleza física, desde que tenhamos a mesma idade e um estilo de vida idêntico? Não, não posso.
Posso comparar-me com uma outra mulher, com a mesma idade, a mesma altura, o mesmo peso, aspecto físico exterior e estilo de vida semelhantes? Não, não posso. Não posso porque há sempre outros factores que têm, forçosamente, de ser levados em conta, como o meio social, o meio familiar, as experiências pessoais, a inteligência, o carácter, o temperamento, etc., etc., etc.
Efectivamente não gosto que me comparem com outra pessoa, principalmente se a outra for gira, alta e magra… (eh eh eh). E compararem-me com uma pessoa que tenha uma vidinha desafogada e que não tenha que fazer contas à vida? Bem…até amarinho pelas paredes!... Não faz sentido, é o mesmo que comparar um BMW com um carrinho de mão ou comparar o What else (leia-se George Clooney) com o Fernando Mendes...
Comparar o que é incomparável, um erro de proporções dramáticas… (o namorado da amiga da Joana que o diga…).

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Memórias e Afectos (37)

Quase todas as minhas recordações me deixam saudosa, mas nem todas me deixam um sorriso no rosto. Um sorriso triste ou um sorriso nostalgicamente ternurento que se estende até à alma. Foi, pois, com um destes sorrisos ternos que relembrei algumas das gulodices da minha infância e o sorriso, para além de me recordar experiências saborosas, ficou açucarado e guloso, como nos tempos da minha meninice…

A Olá sempre deu vários brindes e era grande a expectativa ao comprar um gelado…rasgava o papel à pressa, entusiasmada pela hipótese do bonequinho não ser repetido… Depois, saboreava o gelado devagar, protelando o fim do mesmo, com esperança que aquele pauzinho fosse um dos premiados…Quem não se lembra dos pauzinhos dos gelados com a palavra “prémio” gravada?

Olha o Rajá fresquinho!... Fruta ou chocolate...
Os gelados da Rajá existiam com abundância lá por casa pois o meu irmão foi, durante algum tempo, vendedor da marca. Sorte a minha!

Os pudins Mandarim, em caixinhas azuis com um chinês (supostamente um mandarim), faziam a delícia de qualquer miúdo nos gloriosos anos sessenta.

Também os refrescos Royal e Dawa eram fáceis de preparar. Bastava juntar o pó das saquetas com água, adicionar açúcar e gelo e estavam prontos a beber. Apesar de terem uma grande quantidade de corantes, eram muito agradáveis. O que eu gostava daquela “porcaria”…
Hoje em dia, com tanta oferta e variedade, não nos passa pela cabeça que estes refrescos em pó e pudins instantâneos possam ter sido tão inovadores.

As farinhas variadas e o leite em pó Primor estão, na minha memória, associados aos dias de férias que passava em Alvorninha. Naquele tempo, o leite do dia começou a ser comercializado nuns sacos de plástico (julgo que da Ucal) mas tinham que ser conservados no frigorífico. Como em qualquer aldeia, há mais de quarenta anos, a existência de frigoríficos era uma verdadeira ilusão, a opção passava pelo leite em pó e pelas farinhas. Eu gostava!...

Chocolates! Recordo os da Aliança mas os da Regina eram os meus preferidos...


Fazia-se um furo numa caixa de madeira que tinha uma superfície inclinada com um cartão numerado. Quando se furava o número, à nossa escolha, caía uma bolinha colorida em plástico para uma divisória na parte inferior. A cada cor correspondia um chocolate diferente. Se a memória não me atraiçoa (e engana-me vezes sem conta), a bolinha preta era premiada com uma tablete ComacomPão e o prémio da única bolinha dourada correspondia a uma caixa de bombons. Recordo-me que havia uma cor que saía muitas vezes, certamente a que equivalia ao chocolatinho mais barato…mas não era isso que me fazia desanimar, o que me fazia desanimar mesmo era ouvir os meus pais dizerem por hoje já chega…

Li, por aí, que a Regina queria voltar a distribuir as caixas dos furos pelos cafés e pastelarias mas foi proibida de o fazer pelas autoridades competentes… Dizem as autoridades, e autoridades serão porque têm poder para proibir e chumbar a ideia, que a caixinha dos furos é um jogo de sorte e azar… Como?! Gostava que alguém me explicasse isto melhor, porque eu, ao contrário das autoridades, me sinto incompetente para entender…Não alcanço!...
A não ser que me provem que os altamente viciados, em Black Jack, Roleta ou Poker, adquiriram o vício do jogo na inofensiva caixa de furos…
Agora que penso nisto, é francamente provável que os viciados no Bingo se tenham deixado aliciar por este jogo, depois de tantas “linhas” feitas nas caixas dos furos e de tanto gritarem “bingo” quando lhes saía a cobiçada bola dourada…
Quiçá a corrupção que grassa no país se deva mesmo à catrefada de furos que estes corrompidos senhores fizeram na infância… É, por isso, imperioso que se afastem as nossas crianças da perniciosa caixa de furos, para que o combate à corrupção tenha sucesso…
O que mais posso escrever para reforçar o ridículo desta “competente”decisão?
Como diria a minha mãe, isto não é uma casa, é um “pagode”...

Enfim, coisas do antigamente que o tempo não consegue apagar.
Coisas do antigamente que a minha memória teima em ressuscitar…

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Pobreza Zero

"O meu grande sonho é ser pobre um dia, porque... ser todos os dias é lixado!"
(Autor desconhecido)

Dorminhoco profissional...

Não posso nem com uma gata pl'o rabo...

domingo, 15 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Azar por excelência!

O número 13 é um número amaldiçoado.
Este número assume um significado negativo na crença popular e são muitas as superstições associadas à sexta-feira 13, havendo várias explicações para isso. A mais forte delas seria o facto de Jesus Cristo ter sido crucificado numa sexta-feira e na sua última ceia haver 13 pessoas à mesa (daqui nasceu a superstição de que juntar 13 pessoas num jantar, traz a desgraça ou o azar).
Para esta superstição contribuiu, ainda, o facto de ter sido numa sexta-feira 13 (do ano 1307) que o Rei Filipe IV da França resolveu pôr em acção o seu plano para retirar poder e exterminar a ordem dos Templários, mandando prender, torturar e executar todos os seus Cavaleiros.
Assim, o número treze, por si só, passou a ser considerado um sinal de adversidade e a sexta-feira, o dia de azar da semana. Quando associados obtemos uma sexta-feira treze, o dia de azar por excelência!
Sucede que hoje é um desses dias! Sucede que… não tenho nada contra!
Claro que não vou aqui afirmar, a pés juntos e a fazer figas, que nunca bati três vezes na madeira para afastar o azar ou que nunca fiz um pedido ao ver uma estrela cadente. No entanto, afianço, a pés juntos e a fazer figas (não vá o diabo tecê-las…), que nunca senti qualquer tipo de preconceito a respeito do número 13 (adoro ímpares!) e muito menos em relação às sextas-feiras…
Não consigo compreender como é que se estigmatiza e difama o melhor dia (de trabalho) da semana, não entendo, pronto!
A sexta-feira, mesmo que passe debaixo de uma escada, abra o chapéu-de-chuva dentro de casa ou me cruze com um gato preto, será sempre um dia abençoado…
Mau, mesmo mau, é segunda-feira… seja dia treze ou não!
Nem a vassoura virada ao contrário, atrás da porta, consegue afastar a visita chata de mais uma segunda-feira…
A segunda-feira é um dia de desespero que nos inferniza a alma, é uma praga da Malévola! A única coisa boa numa segunda-feira é ser o dia mais distante da próxima segunda-feira…
Segunda-feira? Cruzes, canhoto! Vai-te embora azar!...

Gosto...e não se fala mais nisso! (14)

Primavera no Japão

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Message in a bottle (23)

(por Isabel Stilwell)

As pessoas que não se vêem ao espelho

ou (digo eu...)
Mania “qués” bom (boa)
ou
Já vi esse filme!
ou
Complexo de Superioridade
ou
Mas onde é que eu já vi isto?

Não há nada mais confrangedor, mas acontece todos os dias, do que lidar com uma pessoa que tem uma opinião de si própria que difere em absoluto daquela que temos dela.
Quando diz que é muito franca e directa, nós vemos má criação; quando se gaba de ser compreensiva, nós vemos autismo puro; quando se vangloria da sua capacidade de liderança, percebemos que o que move alguém a segui-la é o medo, e por aí adiante.

Levá-las a verem-se a um espelho que não esteja distorcido é em muitos casos uma miragem, de tal forma já cristalizaram a sua auto-imagem. Mas pode sempre tentar oferecer-lhes no Natal um espelho sem papas na língua como o da madrasta da Branca de Neve. Mas cautela, depois disso, não volte a aceitar maçãs de velhinhas generosas, por muito brilhantes e polidas que estejam.


O Nobel da Economia

Os pilares da Economia...


terça-feira, 3 de novembro de 2009

Memórias e Afectos (36)

Do que eu me fui lembrar...

Recordo-me destas máquinas durante toda a minha infância.
Punha-se uma moeda e a orquestra de monos tocava para nós...
Não era, para mim, muito importante colocar a moedinha.
Podia ser qualquer criança porque, na verdade,
o que mais me interessava era mesmo ver
a macacada a mover-se e a tocar...
Alguém se lembra do valor da moeda?


Contemporâneo...

(Guerra Junqueiro, 1896)

“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero”…

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Vida sustentável

Os Burros, o Mercado de Acções e a crise...

Uma vez, num pequeno e distante vilarejo, apareceu um homem anunciando que compraria burros por 10 euros cada. Como havia muitos burros na região, os aldeões iniciaram a busca.
O homem comprou centenas de burros a 10 euros e como os aldeões diminuíram o esforço na procura, o homem anunciou que pagaria 20 euros por cada burro.
Os aldeões foram novamente à procura, mas logo os burros foram escasseando e os aldeões desistiram da busca. A oferta aumentou então para 25 euros e a quantidade de burros ficou tão reduzida que já não havia mais interesse em caçá-los.
O homem, então, anunciou que compraria cada burro por 50 euros!
Mas, como iria à cidade, deixaria o seu assistente cuidando da compra dos burros.
Na ausência do homem, o seu assistente propôs aos aldeões: - "Sabem os burros que o homem vos comprou? Eu posso vendê-los a vocês a 35 euros cada. Quando o homem voltar da cidade, vocês vendem-nos a ele pelos 50 que ele oferece e ganham uma boa massa".Os aldeões pegaram nas suas economias e compraram todos os burros ao assistente.
Os dias passaram-se e eles nunca mais viram nem o homem, nem o seu assistente.
Somente burros por todos os lados.
Entendem agora como funciona o mercado de acções e como apareceu a crise?...

Più bello

(segundo Elizabeth Gilbert)

Há boas razões para o italiano ser a língua mais sedutora do mundo.
Para compreender porquê, temos de compreender primeiro que a Europa foi em tempos um pandemónio de inúmeros dialectos derivados do latim que gradualmente, ao longo dos séculos, se transformaram num punhado de línguas separadas – francês, português, espanhol, italiano. Aquilo que aconteceu em França, Portugal e Espanha foi uma evolução orgânica. O dialecto da cidade mais proeminente tornou-se gradualmente a língua de toda a região. Por conseguinte, aquilo a que hoje chamamos francês é na realidade uma versão do parisiense medieval. O português é o lisboeta. O espanhol é essencialmente o madrileno. A cidade mais forte acabou por determinar a língua do país inteiro.
Em Itália foi diferente. A sua unificação foi muito tardia e, até essa altura, era uma península de cidades-estado hostis dominadas por orgulhosos príncipes locais ou por outras potências europeias. Havia partes da Itália que pertenciam a França, outras a Espanha, outras à Igreja, outras ainda a quem conseguisse tomar a fortaleza ou palácio local. A maioria do povo italiano não gostava de ser colonizado pelos seus pares europeus, mas havia sempre aqueles mais apáticos que diziam: “Franza o Spagna, purchè se magna”, o que significa: França ou Espanha, desde que vá comendo…
Assim, não é de surpreender que, durante séculos, os italianos escrevessem e falassem em dialectos locais mutuamente impenetráveis. Um cientista em Florença teria uma enorme dificuldade em comunicar com um poeta na Sicília ou com um mercador em Veneza (a não ser em latim, é claro). No século XVI, alguns intelectuais italianos reuniram-se e decidiram que esta situação era absurda. A península italiana precisava de uma língua italiana, pelo menos na forma escrita, que fosse reconhecida por todos. Essa reunião de intelectuais fez algo sem precedentes na história da Europa: seleccionaram o mais belo de todos os dialectos locais.
De forma a descobrirem o dialecto mais belo alguma vez falado em Itália, tiveram de recuar duzentos anos no tempo até ao século XIV em Florença. Aquilo que este congresso decidiu que passaria a ser considerado daí para a frente como italiano foi a linguagem pessoal utilizada pelo grande poeta florentino Dante Alighieri. Quando Dante publicou a sua Divina Comédia, em 1321, contando em pormenor a progressão visionária através do Inferno, Purgatório e Céu, tinha chocado o mundo letrado ao não usar o latim. Em vez do latim, Dante virou-se para as ruas, recolhendo a verdadeira língua florentina falada pelos residentes da sua cidade e usou-a para contar a sua história.
Ele escreveu a sua obra-prima naquilo a que chamou dolce stil nuovo, o doce estilo novo do vernáculo, e deu forma a esse vernáculo à medida que o ia escrevendo, conferindo-lhe um cunho tão pessoal como o que Shakespeare haveria de conferir à língua isabelina. O facto de, muito mais tarde, um grupo de intelectuais nacionalistas se ter reunido e decidido que o italiano usado por Dante passaria a ser a língua oficial de Itália era como se um grupo de professores universitários de Oxford se tivesse reunido um dia no início do século XIX e decidido que dali para a frente toda a gente em Inglaterra ia falar Shakespeare puro. E a verdade é que funcionou.
Assim, o italiano que falamos (isso queria eu…) hoje não é romano nem veneziano nem sequer inteiramente florentino. É essencialmente o de Dante.
Nenhuma outra língua europeia tem uma origem tão artística.
E talvez nenhuma outra língua tenha alguma vez sido tão perfeitamente destinada a exprimir emoções humanas do que este italiano florentino do século XIV, embelezado por um dos maiores poetas da civilização ocidental…

domingo, 1 de novembro de 2009

Livros e Mar: eis o meu elemento! (17)

A arte da devoção e de exploração espiritual "cultivadas" na Índia, que fazem parte da segunda parte deste livro, apesar de terem uma descrição extraordinária, são demasiado profundas para o meu gosto, existe demasiada meditação sem a qual eu passava muito bem. Ficar-me-ia pelo Comer e Amar... e sem Orar.


Quando fez 30 anos, Elizabeth Gilbert tinha tudo o que uma mulher americana formada e ambiciosa podia querer: um marido, uma casa, uma carreira de sucesso. Mas em vez de estar feliz e realizada, sentia-se confusa e assustada. Depois de um divórcio infernal e de uma história de amor fulminante acabada em desgraça, Gilbert tomou uma decisão: abdicar de tudo, despedir-se do emprego e passar um ano a viajar sozinha. "Comer em Itália, Orar na Índia e Amar na Indonésia" é uma micro-autobiografia desse ano. O projecto de Elizabeth Gilbert era visitar três lugares onde pudesse desenvolver um aspecto particular da sua natureza no contexto de uma cultura que tradicionalmente se destacasse por fazê-lo bem. Em Roma, estudou a arte do prazer, aprendeu a falar italiano e engordou os 23 quilos mais felizes da sua existência. Reservou a Índia para praticar a arte da devoção. Com a ajuda de um guru nativo e de um cowboy do Texas surpreendentemente sábio, Elizabeth empenhou-se em quatro meses de exploração espiritual ininterrupta. Em Bali, aprendeu a equilibrar o prazer sensual e a transcendência divina. Tornou-se aluna de um feiticeiro nonagenário e apaixonou-se da melhor maneira possível - inesperadamente.